Vale a pena repetir a dosagem de lipoproteína a do seu paciente?

<p style="text-align: justify;">Algumas diretrizes recomendam a dosagem de <a href="https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/lipoproteina-a/">lipoproteína a</a> para avaliação do risco cardiovascular, entretanto, sua variabilidade não é bem entendida e ainda é incerto se as medidas repetidas poderiam auxiliar no risco preditivo de doença arterial coronária. A atualização da diretriz brasileira de hipercorlesterolemia familiar recomenda que a dosagem de lipoproteína a deve ser considerada em indivíduos com HF (recomendação classe IIa, nível de evidência B). <strong>Segundo a Diretriz brasileira de dislipidemia, a análise de lipoproteína a, também chamada de Lp (a), não é recomendada de rotina para avaliação do risco de DCV na população geral, mas sua determinação deve ser considerada na estratificação de risco em indivíduos com história familiar de doença aterosclerótica de caráter prematuro e na HF.</strong></p> <p style="text-align: justify;">A Lp(a), que resulta da ligação covalente de uma partícula de LDL à Apo (a), é um potencial fator de risco causal para múltiplas doenças cardiovasculares. <strong>Estudos de randomização mendeliana sugerem que a Lp(a) contribui para doença coronária, insuficiência cardíaca, AVC isquêmico, estenose aórtica</strong> e todas as causas de mortalidade e estudos em andamentos estão testando estas hipóteses.</p> <p style="text-align: justify;">Ainda permanece incerto se as características da Lp(a) contribuem para aterotrombose mas, sua concentração molar tem sido sugerido para explicar a associação com esse risco cardiovascular.</p> <p style="text-align: justify;">Recentemente, vimos uma publicação do professor Braunwald sobre o impacto dos níveis elevados de colesterol em relação ao período em anos, em um novo conceito chamado “anos de colesterol”, assim como se utiliza para carga tabágica. Isso sugere que os desfechos cardiovasculares estão diretamente relacionados com os anos em que o indivíduo está exposto aos níveis elevados de LDL-colesterol.  Esse comportamento seria esperado também para os níveis de Lp(a)?</p> <p style="text-align: justify;">Pensando nisto, um estudo publicado no JACC em fevereiro deste ano teve por objetivo: verificar o quão estável são as medidas de Lp(a). Uma medida muda muito em relação a outra? Nos pacientes em que resolvi pedir dosagem de Lp(a), será que vale a pena repetir a dosagem depois de um tempo, como fazemos como o LDL, por exemplo? O estudo também avaliou se as estatinas têm efeito sobre a concentração de LpA e ainda, estudar se a instabilidade na concentração da Lp(a)  está associada ao risco cardiovascular.</p> <p style="text-align: justify;">Os autores analisaram 16.017 participantes do UK Biobank em dois momentos, linha de base e no follow-up de 4. 42 anos. Dado interessante do estudo foi que <strong>a concentração de Lp(a) não variou muito, na maioria dos pacientes. Apenas 8,66 % dos indivíduos tiveram os variação &gt; 25 nmol/L em relação a linha de base e somente 4,12% tiveram variação &lt; 25 nmol/l</strong>. Embora alguns indivíduos apresentem uma relativa diferença entre as medidas de Lp(a)  entre a linha de base e o follow-up, esta diferença não foi associada com aumento de risco na incidência de doença arterial coronária.</p> <p style="text-align: justify;">As evidências do impacto das estatinas na concentração de Lp(a)  também é incerta. Os autores avaliaram as mudanças no LDL colesterol associado com uso de estatinas e apesar da queda desta fração do colesterol no tempo de estudo, não houve diferença significativa na variação da concentração de Lp(a) e uso de estatinas.</p> <p style="text-align: justify;"><strong>Os autores concluem que esses achados sugerem que medidas longitudinais da lipoproteína a não são necessárias para avaliação do risco cardiovascular no contexto da prevenção primária já que as concentrações molares são geralmente estáveis, mesmo em uso da estatina.</strong></p> <p style="text-align: justify;">Referências:</p> <ul> <li style="text-align: justify;">Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76</li> <li style="text-align: justify;">Izar MCO, Giraldez VZR, Bertolami A, Santos Filho RDS, Lottenberg AM, Assad MHV, et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar – 2021. Arq Bras Cardiol. 2021; 117(4):782-844</li> <li style="text-align: justify;"><a href="https://www.jacc.org/doi/10.1016/j.jacc.2021.11.055">Repeat Measures of Lipoprotein(a) Molar Concentration and Cardiovascular Risk Mark Trinder, MSC, a,b Kaavya Paruchuri, MD,b,c,d,e Sara Haidermota, BS,b,c Rachel Bernardo, BS,c,d Seyedeh Maryam Zekavat, BS,b,f Thomas Gilliland, MD,b,c,d,e James Januzzi, JR, MD,d,e Pradeep Natarajan, MD, MMSC, JACC VOL. 79, NO. 7, 2022, FEBRUARY 22, 2022:617 – 628</a></li> </ul> &nbsp;
18/3/2022

Novidades da diretriz de hipercolesterolemia familiar

Recentemente foi publicada a <a href="https://adad56f4-85f5-461a-ad4d-33669b541a69.usrfiles.com/ugd/adad56_1edc310929e1462cb5da5f7d78809b5c.pdf">nova diretriz</a> de hipercolesterolemia familiar da SBC.  Colocamos mapas mentais de algumas das novidades desta diretriz: <ul> <li>A maioria dos casos de hipercolesterolemia familiar (HF) ocorre por mutações no gene do receptor de LDL.</li> </ul> <img class="aligncenter size-full wp-image-33105" src="http://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2021/12/DLP-mutações-HF.png" alt="" width="1920" height="909" /> <ul> <li>Sempre devemos pensar em HF quando o <a href="https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/tag/dislipidemia/">LDL</a> for ≥ 190 mg/dL.</li> <li>Havendo a suspeita de HF, usar os <a href="http://departamentos.cardiol.br/sbc-da/2015/CALCULADORAHF2017/index.html">critérios holandeses</a> para fechar ou afastar o diagnóstico.</li> <li>Uma vez dado o diagnóstico de HF, seguir a rotina sugerida pela diretriz:</li> </ul> <img class="aligncenter size-full wp-image-33109" src="http://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2021/12/DLP-rotina-HF.png" alt="" width="1920" height="1038" /> <ul> <li>O passo seguinte é estratificar o risco cardiovascular desses pacientes:</li> </ul> <img class="aligncenter size-full wp-image-33107" src="http://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2021/12/DLP-estratificação-de-risco-na-HF.png" alt="" width="1920" height="1033" /> <ul> <li>Dependendo do risco, as metas de LDL são distintas:</li> </ul> <img class="aligncenter size-full wp-image-33111" src="http://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2021/12/DLP-metas-de-LDL-na-HF.png" alt="" width="1920" height="946" /> <ul> <li>E como alcançar estas metas? Assim:</li> </ul> <img class="aligncenter size-full wp-image-33115" src="http://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2021/12/DLP-LDL-na-HF.png" alt="" width="1920" height="1322" />
23/12/2021

Dicas práticas para o uso de sinvastatina

<p style="text-align: justify;">A sinvastatina é uma das drogas mais utilizadas no Brasil, principalmente nos nossos hospitais públicos. Em 2020, uma de suas marcas foi a <a href="https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/tag/estatina/">estatina</a> mais vendida, e ficou na posição de número 48 entre todas as medicações disponíveis.</p> <p style="text-align: justify;">Aqui estão algumas recomendações (nem sempre lembradas) para sua utilização:</p> <p style="text-align: justify;">1-  A <strong>dose máxima</strong> da sinvastatina é de <strong>40mg/dia</strong>. Caso não se atinja as metas de controle de colesterol com essa dose, modificar pra uma estatina de mais <a href="https://www.youtube.com/watch?v=brkpq9_BJ1o">alta potência</a>.</p> <img class="aligncenter size-full wp-image-31016" src="http://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2021/06/DLP-potência-estatinas.png" alt="" width="1920" height="696" /> <p style="text-align: justify;">2- Pacientes com disfunção renal severa : a dose deve ser de 5 mg, com monitorização de efeitos colaterais mais frequentes.</p> <p style="text-align: justify;">3- É uma estatina que deve ter sua <strong>administração preferencialmente noturna</strong>, em jejum.</p> <p style="text-align: justify;">4- Tem um risco de hepatotoxidade menor que a atorvastatina</p> <p style="text-align: justify;">5- Os <strong>efeitos colaterais</strong> clássicos da sinvastatina <strong>podem aparecer até anos após o início do seu uso</strong>, sendo sempre aconselhável considerar essa hipótese dos sinais e sintomas estarem relacionados a essa medicação.</p> <p style="text-align: justify;">6- Desenvolvimento de fibrilação atrial e infecção respiratória são efeitos colaterais com incidência relatada maior que a clássica miopatia ou disfunção hepática.</p> <p style="text-align: justify;">7- Muito cuidado ao usá-la em conjunto com medicações que aumentam seus níveis séricos como claritromicina, eritromicina, ciclosporina e inibidores da protease.</p> <img class="aligncenter size-full wp-image-31018" src="http://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/wp-content/uploads/2021/06/estatina-interacao.png" alt="" width="2002" height="1125" /> <p style="text-align: justify;">8- Atenção para interação com drogas de uso comum</p> <p style="text-align: justify;">      a- amiodarona -&gt; a dose máxima deve ser de 20mg/dia</p> <p style="text-align: justify;">     b- anlodipina e levanlodipina -&gt; a dose máxima deve ser de 20mg/dia</p> <p style="text-align: justify;">     c- diltiazem e verapamil -&gt; a dose máxima deve ser de 10mg/dia</p> 9- <strong>Está contraindicada na gravidez e na amamentação.</strong> Em todas as diretrizes as estatinas aparecem como contraindicadas de forma absoluta em gestantes e também nas lactantes (mulheres que estão amamentando). Para saber mais, veja<a href="https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/estatina-e-mulher-em-idade-reprodutiva-o-que-fazer/"> esse texto. </a>
17/6/2021