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Sintomas musculares associados a estatinas: como diagnosticar?
Escrito por
Eduardo Lapa
Publicado em
18/5/2016
Como já dissemos em post prévio, o efeito colateral mais comum das estatinas são os sintomas musculares (mialgia, fadiga, câimbras). Mas também sabemos que não é infrequente o paciente ambulatorial referir dores/desconfortos musculares mesmo quando não estão usando nenhum tipo de medicação. Como dizer, então, que aquele desconforto muscular referido pelo seu paciente é ou não secundário ao uso de estatinas? Através da dosagem de creatinoquinase (CK ou CPK), correto? Não!! A CK encontra-se normal na grande maioria dos pacientes com sintomas musculares secundários ao uso de estatinas.
Dica: o diagnóstico de sintomas musculares associados ao uso de estatina é CLÍNICO.
Ou seja, são basicamente dados da história clínica do paciente que vão permitir fechar o diagnóstico. Há um escore que leva em conta 4 aspectos para classificar o diagnóstico como provável ou não. Resumindo, os 4 pontos são:
1- localização da dor. O mais típico é que a dor seja simétrica e acometa a região da coxa/quadril. Em segundo grau de frequência, há a dor que ocorre de forma simétrica em panturrilhas ou em ombros. Dores assimétricas não são típicas de estatinas.
2- tempo de surgimento dos sintomas após a introdução da estatina. Quanto mais precoce for o surgimento dos sintomas, mais provável de ser decorrente da medicação. Assim, geralmente os sintomas aparecem nas primeiras 4 semanas da introdução da estatina. Sintomas que surgem após meses de uso da estatina são bem menos comuns.
3- tempo de melhora após suspensão da medicação. Quanto mais rápido desaparecerem os sintomas após suspensão da estatina, mais típico. Assim, o normal é que dentro das primeiras 2 semanas após a retirada da medicação o paciente já relate melhora relevante. Sintomas que demoram mais de um mês para regredirem falam contra o diagnóstico.
4- tempo de surgimento após reintrodução da estatina. Quanto mais rápido retornarem os sintomas após a reintrodução da estatina, mais provável é que os mesmo sejam secundários ao uso da droga. Normalmente eles recidivam nas primeiras semanas após o reinício da estatina.
A escala coloca uma pontuação específica para cada ponto mas isto termina ficando pouco prático para fazer no consultório. Mas pelas características acima colocadas fica fácil de saber se um determinado caso segue ou não os critérios clínicos para que possamos atribuir os sintomas ao uso de estatinas ou não.
Referência: Thompson PD et al. Statin-Associated Side Effects. J Am Coll Cardiol 2016.