Compartilhe
Devo recomendar o uso de estatinas no perioperatório de cirurgia não cardíaca?
Escrito por
Eduardo Castro
Publicado em
6/1/2017
As estatinas são hoje a classe de medicamentos mais prescrita nos EUA. Alguns defendem que parte de seus efeitos estão relacionados à uma atividade pleotrópica – reduzindo a inflamação vascular e reduzindo as chances de instabilidade de placa.
Recentemente foi publicado um estudo (London MJ, Schwartz GG, Hur K et al – JAMA Intern Med 2016; Dec 19) que corrobora para esta tese de que o uso de estatinas em pacientes de alta probabilidade pré teste para eventos ateroscleróticos podem se beneficiar de seus efeitos pleotrópicos ao reduzir as chances de eventos clínicos no pós operatório de cirurgia não cardíaca.
Métodos:
Análise retrospectiva de uma coorte observacional com 180.478 pacientes em cirurgias que ocorreram entre 2005 a 2010 em uma rede de hospitais americanos. Os pacientes que foram incluídos eram tanto de cirurgias eletivas como de urgência. Os procedimentos avaliados foram cirurgia vascular, cirurgia geral, neurocirurgia, ortopedia, urologia e procedimentos de otorrinolaringoscopia. A grande maioria dos pacientes era do sexo masculino (95,6%) com media de idade de 65,9 anos. Na admissão hospitalar 37,8% dos pacientes tinham uma prescrição de estatina, sendo que me 59,5% dos pacientes usavam doses moderadas e a estatina mais prescrita foi sinvastatina.
Resultados:
Com uso de artifícios estatísticos os autores criaram escores de propensão, demonstraram que o uso de estatinas nas primeiras 24h de cirurgia esteve associado a uma redução das chances de morte, nos primeiros 30 dias, de 18% - com NNT 244 para mortalidade por todas as causas. Considerando eventos cardiovasculares e mortalidade o NNT foi de 67 para 30 dias de tratamento.
Conclusões: Os autores concluem que o uso precoce (dentro das primeiras 24h do pós operatório) de estatinas em cirurgias não cardíacas reduziu significativamente mortalidade perioperatoria por todas as causas e de formas ainda mais significativa a mortalidade e complicações de causa cardiovascular.
Perspectiva:
A taxa de mortalidade neste grupo de pacientes não é baixa (dependendo do grupo entre 1 a 3,5% nos primeiros 30 dias). Uma redução de 18% de mortalidade é realmente expressiva. Considerando a realidade de um hospital com 200 leitos que faz em media 300 cirurgias ao mês, esta estratégia teria preservado a vida de 15 pacientes ao final de 1 ano!
Nota do editor:O estudo mencionado, por ser observacional e retrospectivo, é apenas gerador de hipóteses clínicas.