A Semaglutida oral reduz eventos cardiovasculares maiores em pacientes com diabetes de forma similar à sua formulação subcutânea?

Compartilhe

              O estudo SOUL foi apresentado no congresso do ACC 2025 e publicado recentemente no The New England Journal of Medicine.  Quais são os pontos principais do estudo?

              Os benefícios clínicos cardiovasculares e renais da Semaglutida subcutânea (SC) foram demonstrados nos estudos SUSTAIN-6 e FLOW. Em relação a formulação oral da Semaglutida, algumas dúvidas existem quanto à sua eficácia, pois sua biodisponibilidade é baixa (0,4% a 1%) e sua absorção necessita de condições específicas quanto à administração. O estudo PIONEER 6 avaliou a segurança cardiovascular da semaglutida oral, mas em virtude do tamanho amostral pequeno, ao curto tempo de seguimento e ao objetivo de não inferioridade, o trabalho não foi capaz de demonstrar superioridade na redução de eventos cardiovasculares.

              No SOUL, a Semaglutida oral com titulação gradual até a dose máxima de 14 mg por dia, foi comparada ao uso de placebo oral correspondente. Foram incluídos 9.650 pacientes com:

- Diabetes tipo 2 (HbA1c 6,5–10%);

- Idade ≥ 50 anos;

- Pacientes com história de pelo menos uma das seguintes situações: doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida (coronária, cerebrovascular ou doença arterial periférica sintomática), doença renal crônica (TFG <60 mL/min/1,73 m²), ou presença simultânea de ambas as situações.  

              Foram excluídos pacientes com doença renal em estágio terminal, incluindo aqueles em diálise crônica ou com histórico de transplante renal, bem como indivíduos com diabetes tipo 1. Também foram excluídos participantes com eventos cardiovasculares agudos recentes. Outros critérios de exclusão incluíram insuficiência hepática grave, câncer ativo nos últimos cinco anos (exceto câncer de pele não melanoma tratado), histórico de pancreatite, uso recente de agonistas do receptor de GLP-1, alergia à Semaglutida ou seus excipientes, além de gravidez, lactação e qualquer condição médica ou psiquiátrica que, a critério do investigador, pudesse comprometer a segurança do paciente ou a integridade do estudo.

Desfechos clínicos avaliados

Primário: 

- MACE-3: morte cardiovascular, infarto do miocárdio não fatal, AVC não fatal.

Secundários confirmatórios: 

- Desfechos renais maiores (composto de 5 pontos);

- Morte cardiovascular;

- Eventos adversos em membros inferiores (hospitalização por isquemia);

Exploratórios:

- Mortalidade geral, insuficiência cardíaca, revascularização, HbA1c, peso, PCR-us, hipoglicemia;

Principais resultados 

Eficácia e segurança:

- Redução significativa no desfecho primário: 12,0% vs. 13,8% (HR 0,86; IC 95%: 0,77–0,96; p = 0,006).

- Maior efeito observado no infarto do miocárdio não fatal (HR: 0,74, IC 95%: 0,61–0,89);

- Desfecho renal maior: não significativo (HR 0,91; p=0,19);

- Tendência favorável em morte geral, eventos de IC e revascularização;

              Em relação a segurança , a Semaglutida oral demonstrou um perfil de segurança favorável e consistente. A incidência de eventos adversos graves foi menor no grupo Semaglutida (47,9%) em comparação ao placebo (50,3%), com diferença estatisticamente significativa (p = 0,02). Os eventos gastrointestinais, como náuseas, diarreia e vômitos, foram mais frequentes no grupo ativo (5,0% vs. 4,4%) e representaram a principal causa de descontinuação definitiva do tratamento (15,5% com Semaglutida vs. 11,6% com placebo). Não houve aumento de risco para hipoglicemia grave (1,6% vs. 1,7%; HR: 0,90), pancreatite aguda, eventos renais graves, nem neoplasias malignas, sugerindo boa tolerabilidade a longo prazo. 

              O estudo SOUL fornece evidências robustas de que a semaglutida oral reduz significativamente eventos cardiovasculares maiores em pacientes com diabetes tipo 2 de alto risco cardiovascular. Com isso, preenche a lacuna deixada pelo estudo PIONEER 6 — que havia demonstrado apenas segurança, mas não eficácia — e posiciona a formulação oral em nível comparável à semaglutida subcutânea em termos de cardioproteção. Os resultados consolidam a semaglutida oral como uma alternativa terapêutica eficaz, segura e clinicamente relevante, com o potencial adicional de maior adesão ao tratamento, graças à sua via de administração mais conveniente e aceitável para muitos pacientes.

Referência:

McGuire, Darren K et al. “OralSemaglutide and Cardiovascular Outcomes in High-Risk Type 2 Diabetes.” The NewEngland journal of medicine, 10.1056/NEJMoa2501006. 29 Mar. 2025,doi:10.1056/NEJMoa2501006.