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O uso de betabloqueador na Síndrome de Takotsubo.

Escrito por
Ivson Braga
Publicado em
15/5/2025

As evidências em relação ao uso de beta-bloqueadores na Síndrome de Takotsubo são controversas. Apesar de uma fisiopatologia plausível (ação antagônica aos efeitos das catecolaminas), os estudos apresentam resultados divergentes. O estudo de Templin et al. e dados do Registro RETAKO não mostraram evidências de benefício de sobrevida com o uso de betabloqueadores na Síndrome de Takotsubo. Já em um estudo observacional multicêntrico italiano com seguimento de 2 anos mostrou redução significativa da mortalidade geral, especialmente em pacientes com hipertensão ou choque cardiogênico (Silverio et al., 2022).
O JACC Heart Failure publicou essa semana os resultados do Registro GEIST (Beta-Blockers and Long-Term Mortality in Takotsubo Syndrome: Results of the Multicenter GEIST Registry). Esse trabalho analisou a associação entre o uso de beta-bloqueadores na alta hospitalar com mortalidade e recorrência em uma ampla coorte internacional de pacientes com Síndrome de Takotusubo. Esses dados representam a maior análise observacional já realizada sobre o tema.
Trata-se de um estudo observacional, multicêntrico e prospectivo, com análise de escore de propensão. Foram incluídos 2.853 pacientes com diagnóstico confirmado de Síndrome de Takotusubo, internados entre 2002 e 2022 em centros da Alemanha, Itália e Espanha. Foram excluídos pacientes que faleceram durante a internação ou quando os dados de seguimento estavam ausentes. Os participantes foram divididos conforme o uso de beta-bloqueadores na alta (74,5% dos casos), e após pareamento por escore de propensão, em dois grupos foram formados com 697 pacientes cada. O objetivo primário foi avaliar a mortalidade por todas as causas; os desfechos secundários incluíram recorrência da síndrome e recuperação da fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE).
Os resultados mostraram que o uso de beta-bloqueadores foi associado a uma redução significativa de 29% de mortalidade (HR: 0,71; IC95%: 0,55–0,90; P = 0,006), especialmente no primeiro ano após a alta. Houve redução de 27% de morte e recorrência (HR 0,73 (0,58 - 0,91); p=0,02). Mostrou ainda que não houve redução na taxa de recorrência (HR 0,74 (0,61 - 1,89); p=0,593) nem houve impacto na recuperação da FEVE. O tratamento apresentou efeito semelhante em relação à mortalidade no acompanhamento dos pacientes com e sem FEVE melhorada (HR: 0,72 [IC 95%: 0,59-0,88]; P = 0,002 para pacientes com FEVE ≥ 50% e HR: 0,60 [IC 95%: 0,35-1,04]; P = 0,069 para pacientes com FEVE < 50%; P para interação = 0,457). A análise de subgrupos não mostrou interações significativas entre o efeito da medicação com as variáveis sexo, idade, hipertensão, disfunção ventricular, tipo de gatilho (emocional ou físico), histórico de câncer, presença de DPOC/asma, ou uso concomitante de inibidores do sistema renina-angiotensina.
Diante das controvérsias de estudos anteriores, o Registro GEIST fortalece a hipótese a favor de benefício prognóstico com o uso de beta-bloqueadores na Síndrome de Takotsubo. Apesar de ser a maior análise observacional já realizada sobre o tema, a ausência de dados sobre tipo de beta-babloqueador utilizado, a dose utilizada, duração do tratamento, além do caráter não randomizado do estudo, são limitações importantes que limitam a inferência sobre um real benefício. O próximo passo será aguardar o estudo clínico b-Tako (em andamento) que avaliará a eficácia e a segurança dos betabloqueadores nesses pacientes com Síndrome de Takotsubo.
Referência:
Raposeiras-Roubin, Sergio et al. “Beta-Blockers and Long-Term Mortality in Takotsubo Syndrome: Results of the Multicenter GEIST Registry.” JACC. Heart failure vol. 13,5 (2025): 815-825.