Aspirina na prevenção primária em pacientes com lipoproteína(a) elevada

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Aspirina na prevenção primária em pacientes com lipoproteína(a) elevada

Nos últimos anos, a aspirina tem demonstrado consistente benefício em prevenção secundária, porém, em um contexto de prevenção primária, existem poucas evidências de benefícios. Entretanto, diante de uma situação bem prevalente – a elevação da lipoproteína(a) – que confere risco até 4 vezes maior de doença cardiovascular a cerca de 1,4 bilhão de indivíduos globalmente, fica a dúvida: Seria a aspirina uma ferramenta para diminuir o risco cardiovascular nesta população de pacientes com lipoproteína(a) elevada? (Quer saber mais sobre isso? Confira em https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/devemos-dosar-rotineiramente-lipoproteina-a/)

Brevemente, a lipoproteína (a) tem estrutura semelhante à LDL, sendo portanto rica em colesterol. Além disso, previne a ativação do plasminogênio em plasmina, podendo ter efeitos antifibrinolíticos e protromboticos. Além disso, a Lp(a) também pode induzir agregação plaquetária ativando o PAR-1 plaquetário (receptor-1 ativado por protease). Assim, dada a relação entre Lp(a), trombose, fibrinólise e função plaquetária, pode-se propor que a aspirina pode beneficiar indivíduos com Lp(a) elevada no cenário de prevenção primária de DCV.

O estudo analisou 12.815 indivíduos genotipados com média de 70 anos de idade de ascendência europeia e sem eventos cardiovasculares prévios incluídos no ensaio controlado randomizado ASPREE (ASPirin in Reducing Events in the Elderly), com uso 100 mg/dia de aspirina versus placebo. Foi testada a interação entre genótipos e alocação de aspirina em modelos de riscos proporcionais de Cox para incidência de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) e sangramento clinicamente significativo. Também examinamos as associações nos braços de aspirina e placebo do estudo separadamente.

Durante uma mediana de 4,7 anos (3,6-5,7 anos) de seguimento, a aspirina reduziu MACE em 1,7 eventos por 1.000 pessoas-ano e aumentou o sangramento clinicamente significativo em1,7 eventos por 1.000 pessoas-ano. No entanto, em determinado subgrupos genotipados (rs3798220-C e alto LPA-GRS), a aspirina reduziu MACE em 11,4 e 3,3 eventos por 1.000 pessoas-ano, respectivamente, sem aumento significativo do risco de sangramento.

Assim, a aspirina pode beneficiar indivíduos idosos com determinados genótipos de lipoproteína(a) elevada em prevenção primária.

Impressão: Estudo interessante de grande amostra de indivíduos idosos genotipados, sem DCV prévia, com níveis altos de uma lipoproteína com alto potencial protrombótico, randomizados para utilizar placebo ou aspirina para minimizar o viés de seleção. Porém, os resultados direcionam a uma população com marcador genético específico principalmente encontrado em ascendência europeia (em menor proporção hispânicos) e não encontrada por exemplo, em indivíduos africanos. Além disso, os resultados requerem validação em coortes mais jovens. Por último, trata-se de uma análise de subgrupos, a qual pode, no máximo, gerar hipóteses.

REFERÊNCIA

1- Lacaze P, Bakshi A, Riaz M, Polekhina G, Owen A, Bhatia HS, Natarajan P, Wolfe R, Beilin L, Nicholls SJ, Watts GF, McNeil JJ, Tonkin AM, Tsimikas S. Aspirin for Primary Prevention of Cardiovascular Events in Relation to Lipoprotein(a) Genotypes. J Am Coll Cardiol. 2022 Oct 4;80(14):1287-1298. (https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0735109722057205?via%3Dihub)