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A relação entre a redução dos níveis de LDL-c e a redução do risco cardiovascular já é bem estabelecida na literatura há algumas décadas. Porém, as estatinas, o tratamento padrão da hipercolesterolemia, nem sempre conseguem trazer os nossos pacientes para o alvo estabelecido do LDL-c, especialmente naqueles de alto ou muito alto risco cardiovascular. Mais recentemente, os inibidores da PCSK9 surgiram para tentar resolver este problema.
No entanto, tanto o alirocumabe quanto o evelocumabe, inibidores de PCSK9 atualmente disponíveis, são drogas ainda muito caras e, desta forma, pouco acessíveis à população. O fato de serem preparações injetáveis também não ajuda, já que isto pode ser motivo de desconforto e descontinuação por parte dos pacientes. Mas e se existisse uma droga inibidora do PCSK9 por via oral? Tanto o problema do custo seria amenizado quanto a questão da via de administração seria resolvida.
E a boa notícia é que um estudo de fase 2 com um inibidor de PCSK9 oral acabou de ser publicado no Journal of the American College of Cardiology, com resultados promissores. A molécula, ainda sem nome, tem sido provisoriamente denominada de MK-0616 e é um peptídeo que se liga ao PCSK9, bloqueando sua ação.
O estudo avaliou 381 indivíduos (51% homens e 49% mulheres), com idade média de 62 anos, assim distribuídos em relação ao risco cardiovascular:
- 38,6% apresentando doença cardiovascular estabelecida;
- 56,4% classificados como tendo risco alto ou intermediário
- 4,7% com risco intermediário.
O nível médio de LDL-c era de 119,5 mg/dl. Em relação ao uso de estatina, 34,6% estavam em uso de estatina de baixa à moderada intensidade e 26% estavam em uso de estatina de alta intensidade.
Os pacientes foram randomizados em 4 grupos, cada um recebendo uma diferente dose do inibidor de PCSK9 oral: 6mg, 12mg, 18mg ou 30mg; todos por via oral uma vez ao dia. E ainda um grupo que recebeu placebo. Ao final de 8 semanas, foi avaliado o efeito sobre o LDL-c.
Todas as doses foram eficazes em reduzir os níveis de LDLc quando comparadas ao placebo:
- Dose de 6mg: reduziu em 41,2% (80,5% dos indivíduos atingiram a meta);
- Dose de 12mg: reduziu em 55,7% (85,5% dos indivíduos atingiram a meta);
- Dose de 18mg: reduziu em 59,1% (90,8% dos indivíduos atingiram a meta);
- Dose de 30mg: reduziu em 60,9% (90,8% dos indivíduos atingiram a meta).
As diferentes doses foram também eficazes em reduzir os níveis de apoB e de colesterol não-HDL. A frequência de eventos adversos entre os grupos que usaram o inibidor de PCSK9 oral e o grupo placebo foi semelhante.
Estes resultados abriram caminho para a realização, agora, de um estudo de fase 3, que já está sendo programado e que lançará luz sobre o possível uso clínico da droga no futuro. Se for confirmada a redução expressiva dos níveis de LDL-c (comparável às preparações injetáveis) e for demonstrado o benefício cardiovascular do inibidor de PCSK9 oral, estariam o alirocumabe e o evolocumabe com os dias contados?