Estatinas: benefícios na doença hepática crônica

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A incidência de cirrose hepática e carcinoma hepatocelular vem crescendo globalmente nas últimas décadas. Paralelamente, doença hepática gordurosa vem se firmando como uma das principais causas associadas. A grande morbimortalidade associada a estas condições impõe a necessidades de estudos em busca de intervenções terapêuticas efetivas. Estudos experimentais sugerem que as estatinas podem atuar na prevenção da progressão da doença hepática crônica e hepatocarcinogênese por meio de mecanismos anti-inflamatórios, antifibróticos e antioxidantes.

Um artigo recentemente publicado na revista JAMA Internal Medicine, investiga a associação entre o uso de estatinas e a redução do risco de carcinoma hepatocelular (HCC) e descompensação hepática em pacientes com doença hepática crônica (DHC). Este estudo de coorte, conduzido com dados do Research Patient Data Registry de 2000 a 2023, analisou 16.501 pacientes com 40 anos ou mais, diagnosticados com CLD e risco intermediário para fibrose avançada (definido por FIB-4 ≥ 1,3). Os participantes foram divididos de acordo com o uso de estatinas.

Principais Resultados

  • Redução de Risco de HCC e Descompensação Hepática: Os usuários de estatinas apresentaram uma incidência cumulativa em 10 anos significativamente menor de HCC (3,8% vs. 8,0%; diferença de risco: -4,2%) e descompensação hepática (10,6% vs. 19,5%; diferença de risco: -9,0%) em comparação com não usuários.
  • Impacto na Fibrose Hepática: Entre os 7.038 pacientes com dados seriados de FIB-4, os usuários de estatinas mostraram menor progressão da fibrose. Por exemplo, apenas 14,7% dos usuários com escores intermediários transitaram para o grupo de alto risco, contra 20,0% dos não usuários. Nos pacientes com escores altos, 31,8% dos usuários regrediram para o grupo intermediário, comparado a 18,8% dos não usuários.
  • Efeito do Tipo e Duração: Estatinas lipofílicas e maior uso cumulativo foram associados a reduções ainda maiores nos riscos de HCC e descompensação hepática.

Conclusões e Relevância

O estudo demonstra que o uso de estatinas está associado a um menor risco de HCC e descompensação hepática em pacientes com DHC, além de promover evoluções favoráveis nos escores FIB-4, indicando um efeito protetor contra a progressão da fibrose hepática. Esses achados reforçam o papel crucial das estatinas no manejo da doença hepática crônica, indo além do controle de dislipidemias. As estatinas, especialmente as lipofílicas (por exemplo: sinvastatina e atorvastatina) e em uso prolongado, emergem como uma estratégia promissora para prevenir complicações graves, como o HCC, ao mitigar a inflamação crônica e a fibrose, fatores centrais na hepatocarcinogênese. Assim, as estatinas podem ser uma ferramenta valiosa na melhora da saúde hepática geral e na prevenção da progressão da doença em pacientes de risco.

Referência: Choi J, Nguyen VH, Przybyszewski E, Song J, Carroll A, Michta M, Almazan E, Simon TG, Chung RT. Statin Use and Risk of Hepatocellular Carcinoma and Liver Fibrosis in Chronic Liver Disease. JAMA Intern Med. 2025 Mar 17:e250115. doi: 10.1001/jamainternmed.2025.0115. Epub ahead of print.