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Novo guideline canadense sobre manejo da obesidade na infância

Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
24/4/2025

A obesidade infantil é uma condição crônica e progressiva, caracterizada pelo excesso de gordura corporal que pode comprometer a saúde física e emocional das crianças. O problema é agravado por consequências metabólicas, mecânicas, psicológicas e sociais, além da alta probabilidade de persistência da condição na vida adulta. Diante disso, médicos canadenses publicaram recentemente um guideline clínico para orientar intervenções baseadas em evidências em crianças e adolescentes com obesidade, promovendo a tomada de decisão compartilhada entre profissionais de saúde, crianças e suas famílias.
Em relação às intervenções farmacológicas, o guideline faz três recomendações:
1. A primeira sugere o uso de agonistas do receptor de GLP-1 (como a liraglutida ou a semaglutida), combinados com intervenções comportamentais e psicológicas, em crianças com 12 anos ou mais. Os autores se basearam em uma metanálise, incluindo sete ensaios clínicos randomizados. Embora os efeitos sobre o zIMC tenham sido variáveis, os efeitos colaterais gastrointestinais são de leves a moderados. Abaixo de 12 anos, não há evidências para se recomendar o uso. Em relação ao tipo de análogo de GLP1, os autores preferiram não se posicionar em relação à preferência de um sobre o outro, uma vez que há apenas um ensaio clínico comparando diferentes drogas (neste estudo, a semaglutida foi superior).
2. A segunda recomendação refere-se ao uso de metformina, também em associação com intervenções comportamentais e psicológicas, para o manejo da obesidade em crianças a partir de 12 anos. Esse medicamento mostrou efeitos moderados na redução do zIMC e do peso, com riscos baixos de efeitos adversos graves.
3. A terceira recomendação sugere que os inibidores de lipase, como o orlistate, não sejam utilizados, devido à escassez de benefícios significativos e à alta frequência de efeitos colaterais gastrointestinais.
Em relação às intervenções cirúrgicas, foram feitas duas recomendações:
1. A primeira é considerar a gastrectomia vertical laparoscópica (sleeve) para adolescentes a partir dos 13 anos, desde que sejam avaliados por uma equipe multidisciplinar especializada. A cirurgia mostrou efeitos positivos na qualidade de vida e reduções substanciais em peso e IMC, embora exista um pequeno risco de eventos adversos graves.
2. A segunda recomendação envolve o bypass gástrico em Y de Roux, também indicado para adolescentes com mais de 13 anos e sob avaliação especializada. Este procedimento demonstrou benefícios significativos em diversos desfechos de saúde, incluindo melhora da qualidade de vida e redução de peso, com riscos moderados de efeitos adversos.
Essas recomendações reforçam a importância de uma abordagemindividualizada e colaborativa no tratamento da obesidade infantil,considerando os valores, preferências e contexto de cada família.