Quando indicar intervenção em pacientes com estenose mitral importante?

Compartilhe
Quando indicar intervenção em pacientes com estenose mitral importante?

Neste post vimos os parâmetros ecocardiográficos de estenose mitral importante. Mas quando devemos indicar intervenção? E qual indicar: valvoplastia mitral percutânea por cateter-balão ou tratamento cirúrgico?

Para respondermos estas perguntas, precisamos avaliar a etiologia da estenose mitral e a presença de sintomas ou fatores complicadores.

As duas principais etiologias da estenose mitral são a febre reumática e a degenerativa. Outras causas mais raras incluem: cardiopatia congênita, Doença de Fabry e doenças reumatológicas.

Mas como eu faço para diferenciar a etiologia reumática da degenerativa?

A reumática é mais comum em países em desenvolvimento, acomete pacientes mais jovens (< 50 anos) e o ecocardiograma mostra espessamento das cúspides, fusão comissural, comprometimento do aparelho sub-valvar e pode ocorrer acometimento mitroaórtico. Já a degenerativa é mais comum em países desenvolvidos e em pacientes idosos, ecocardiograma mostra calcificação do anel valvar mitral, ausência de fusão comissural e tem relação com calcificação aórtica e coronariana.

DICA:

  • etiologia reumática acomete da ponta das cúspides e depois progride em direção à porção basal. Degenerativo é o contrário. Começa a acometer pela base da cúspide/anel valvar e depois vai pegando o resto da válvula. Ou seja, é o ecocardiografista que pela descrição da valva vai definir a etiologia.

Com relação aos sintomas, o mais comum é a dispneia. Inicialmente ocorre ao esforço físico, podendo ocorrer em repouso ou dispneia paroxística noturna.

Os fatores complicadores que corroboram a indicação de intervenção são hipertensão pulmonar (pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg no repouso ou ≥ 60 mmHg no esforço) e fibrilação atrial de início recente.

Ok, defini a etiologia da estenose mitral do meu paciente e a presença de sintomas ou fatores complicadores. E agora?

Nos pacientes reumáticos, a intervenção está indicada na presença de sintomas (dispneia CF II-IV) e/ou fatores complicadores. O tratamento de escolha é a valvoplastia mitral percutânea por cateter-balão, desde que escore de Wilkins seja ≤ 8 (aparelho sub-valvar e calcificação ≤ 2) e o paciente não tenha contra-indicação (trombo no átrio esquerdo, insuficiência mitral moderada ou importante e fenômeno embólico recente). Em gestantes e pacientes de alto risco cirúrgico um escore de Wilkins ≤ 10 pode ser considerado. Nos casos com contra-indicação à valvoplastia percutânea, a cirurgia está indicada (comissurotomia ou troca valvar).

Nos pacientes com estenose mitral degenerativa, o tratamento inicial é clínico, sendo indicado o tratamento cirúrgico nos casos refratários.