Você já ouviu falar no Time in Target Range (TTR) da pressão arterial?

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              Atualmente, a avaliação da eficácia do tratamento da hipertensão arterial sistêmica (HAS) se baseia nas medições da pressão arterial (PA) durante as consultas médicas ou nas medidas domiciliares, como a MRPA e a MAPA. Essas abordagens, no entanto, podem não refletir com precisão o real controle pressórico ao longo do tempo e, nesse sentido, surge o conceito de Time in Target Range (TTR) como uma possível melhor abordagem na avaliação do controle da HAS.

             Uma meta-análise recentemente publicada (Time in Target Range for Blood Pressure and Adverse Health Outcomes: A Systematic Review), avaliou se a manutenção da PA dentro da faixa recomendada por mais tempo estaria associada a melhores desfechos clínicos. Os pesquisadores analisaram 21 estudos de coorte e dados secundários de ensaios clínicos, envolvendo pacientes adultos com hipertensão. A meta-análise agrupou dados que relacionavam diferentes faixas-alvo de PA com eventos cardiovasculares. O TTR foi definido como a porcentagem de medições da PA dentro da faixa-alvo ao longo do período de acompanhamento e o seu cálculo utilizou diferentes métodos de medição (as medições de consultório foram as mais utilizadas) e não houve restrições quanto à frequência das aferições.

              As principais faixas avaliadas foram:

  • Pressão sistólica entre 110-130 mmHg
  • Pressão sistólica entre 120-140 mmHg
  • Pressão diastólica entre 70-80 mmHg

              O estudo incluiu dados sobre desfechos primários (mortalidade geral e cardiovascular) e secundários (infarto do miocárdio, AVC, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial e desfechos renais). Os resultados mostraram que um TTR mais alto foi associado a melhores desfechos cardiovasculares. Entre os principais resultados, destacam-se:

  • Mortalidade por todas as causas: cada aumento de um desvio-padrão (DP) no TTR reduziu o risco de morte em 15% a 19%.
  • Mortalidade cardiovascular: o risco foi reduzido entre 17% e 24% para aqueles com maior tempo na faixa-alvo.
  • Eventos cardiovasculares maiores (MACE): o risco diminuiu em 24% para pacientes com pressão sistólica entre 120-140 mmHg.
  • Insuficiência cardíaca: o risco foi 16% a 22% menor para quem manteve a PA dentro da faixa recomendada.
  • Infarto do miocárdio e AVC: os resultados foram menos consistentes, mas sugerem benefícios potenciais.
  • Fibrilação atrial e complicações renais: não houve associação significativa entre TTR e redução desses eventos.

            Ainda existem lacunas quanto a definição do TTR ideal pois, entre os estudos, não houve uma padronização quanto à definição, frequência de medições, duração da análise e método utilizado na mensuração da pressão arterial. Apesar dessas lacunas, as evidências atuais sugerem que há benefícios quando se utiliza o conceito de tempo dentro da faixa de meta terapêutica. Espera-se que os próximos estudos aprofundem a aplicabilidade clínica desse conceito, especialmente por meio da padronização e validação de valores-alvo específicos para diferentes populações.

 

Referência:

Wang H, Song J, Liu Z, Yu H, Wang K, Qin X, Wu Y. Time in Target Range for Blood Pressure and Adverse Health Outcomes: A Systematic Review. Hypertension. 2025 Mar;82(3):419-431. doi: 10.1161/HYPERTENSIONAHA.124.24013.