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Primeiro Transplante Parcial do Coração em Neonato com Defeito Congênito
Escrito por
Humberto Graner
Publicado em
12/1/2024
Uma relato de caso abriu uma perspectiva inédita na área da cirurgia cardíaca pediátrica para correção de defeito congênito. O avanço inovador e significativo foi alcançado com a realização de um transplante parcial de coração em um neonato diagnosticado com truncus arteriosus persistente e disfunção valvar irreparável.
Esta condição complexa é uma forma de cardiopatia cianótica onde apenas uma artéria emerge do coração, resultado da fusão anormal das artérias aorta e pulmonar. Neste caso, o mesmo vaso é responsável pela circulação sistêmica, pulmonar e coronariana, havendo mistura de sangue oxigenado e não-oxigenado, além da ausência de uma válvula crucial para prevenir o refluxo sanguíneo.
Qual o problema nesses casos?
O tratamento de recém-nascidos com disfunção de valva cardíaca é um problema não resolvido, pois não existem implantes de válvulas cardíacas que possam crescer com o paciente. Consequentemente, esses neonatos necessitam passar por trocas recorrentes de implantes até que uma válvula de tamanho adulto possa ser adequadamente ajustada.
No caso de pacientes com truncus arteriosus corrigidos cirurgicamente nos primeiros dias de vida, o conduto artificial que conecta o ventrículo direito à artéria pulmonar pode tornar-se estreito e pequeno à medida que a criança cresce, sendo necessárias reintervenções periódicas que aumentam a morbidade. As artérias pulmonares periféricas também podem ficar estreitadas e necessitar de tratamento.
Qual foi a inovação neste caso?
O procedimento envolveu o transplante das válvulas aórtica e pulmonar de um doador neonato com lesão cerebral hipóxico-isquêmica.
Após um acompanhamento cuidadoso de mais de um ano, foi observado que as válvulas transplantadas não só cresceram adequadamente, mas também mantiveram uma função hemodinâmica excelente, mostrando-se uma solução promissora para neonatos com disfunções valvares cardíacas graves.
Este caso foi ralizado em 2022, e seu acompanhamento de mais de um ano publicado recentemente. Não apenas oferece uma nova esperança para crianças com defeitos cardíacos congênitos, mas também marca um passo significativo na medicina cardiovascular pediátrica, abrindo caminho para futuros tratamentos.
Embora os efeitos a longo prazo e a viabilidade deste procedimento inovador ainda estejam em estudo, a esperança é refinar o método e definir o melhor esquema (ou, quem sabe até eliminar a necessidade) de medicamentos imunossupressores.
Referência
Turek JW, Kang L, Overbey DM, Carboni MP, Rajab TK. Partial Heart Transplant in a Neonate with Irreparable Truncal Valve Dysfunction. JAMA. 2024;331(1):60–64. doi:10.1001/jama.2023.23823