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Arritmias em pacientes assintomáticos sempre geram dúvidas em relação à conduta clínica. Baseado nisso, um novo documento da Sociedade Europeia de Cardiologia publicado recentemente, Europace. 2019 Mar 18. pii: euz046. doi: 10.1093/europace/euz046, tenta trazer as melhores práticas clínicas nos diferentes cenários. Neste post abordaremos especificamente a pré-excitação ventricular ou padrão de Wolff-Parkinson-White (WPW).
A prevalência de pré-excitação ventricular no eletrocardiograma (ECG) varia de 0,1 a 0,3% na população em geral. Em indivíduos sintomáticos, o risco de morte súbita cardíaca (MSC) ao longo da vida é em torno de 3 a 4%.
Desta forma, em pacientes sintomáticos não há muita dúvida, a ablação por cateter é o tratamento de escolha mundialmente reconhecido.
Em indivíduos assintomáticos, o risco de MSC ao longo da vida é de, no máximo, 0,6%. Portanto, o papel do estudo eletrofisiológico (EEF) e da ablação por cateter ainda é motivo de debate na comunidade científica.
São critérios de baixo risco em pacientes assintomáticos: teste ergométrico e/ou Holter de 24h que mostrem bloqueio da condução anterógrada pela via acessória (VA) com o aumento da frequência cardíaca e condução intermitente pela VA nas 24h. Ambos são sinais de que o período refratário efetivo (PRE) da VA é longo. Esses indivíduos são considerados de muito baixo risco.
Por outro lado, são critérios de alto risco em pacientes assintomáticos: indivíduos jovens (geralmente abaixo de 35 anos), taquicardia atrioventricular induzível no EEF, um PRE anterógrado da VA < 240 ms e presença de múltiplas vias.
Recomendações do guideline:
- Apenas seguimento clínico, sem ablação por cateter, é razoável em indivíduos assintomáticos com pré-excitação ventricular intermitente nos exames não invasivos ou que foram submetidos a um EEF sem evidências de alto risco.
- O EEF para estratificação de risco pode ser considerado em indivíduos assintomáticos com pré-excitação ventricular. Ablação por cateter pode ser considerada nestes indivíduos, quando elementos de alto risco forem encontrados no exame invasivo.
- Ablação por cateter deve ser considerada em indivíduos que fazem atividades esportivas de alta intensidade ou em esportistas profissionais e naqueles com ocupações de risco (ex. piloto de avião).
- Uma discussão detalhada com o paciente e seus familiares deve sempre preceder a decisão pelo exame invasivo. As preferências individuais do paciente, assim como os risco de se fazer ou não o procedimento, devem ser levados em conta.