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Por que não se usa mais ticlopidina?
Escrito por
Eduardo Lapa
Publicado em
4/5/2016
Vimos em post prévio que no final dos anos 90 uma série de estudos mostrou que a associação de ticlopidina ao aas diminuía consideravelmente o risco de trombose de stent recentemente implantado. Contudo, atualmente praticamente não se usa mais esta medicação neste cenário. Qual o motivo?
Isto se deve em grande parte a um estudo publicado no Circulation em 2001 que mostrou que o clopidogrel possuía os mesmos benefícios da ticlopidina mas com uma taxa de eventos adversos bem menor. O endpoint primário do trabalho era medir a incidência de qualquer um dos desfechos:
- complicações hemorrágicas como: queda de Hb maior que 3 g/dL, necessidade de transfusão de 2 ou mais concentrados de hemácias, sangramento retropeitoneal, sangramento intracraniano
- neutropenia <1.500
- plaquetopenia < 100.000
- suspensão precoce da medicação devido a problemas não cardíacos (ex: alergia, intolerância gastrointestinal, etc)
A taxa de eventos no grupo ticlopidina foi de 9,1% e no grupo clopidogrel, 4,6%. Basicamente a diferença deveu-se ao último ítem (8,2% x 3,5%).
Classicamente se fala que um efeito colateral da ticlopidina é a neutropenia. Isto inclusive é bastante pedido em provas de cardiologia. Contudo, o evento ocorreu em apenas 0,3% dos pctes x nenhum pcte do grupo clopidogrel. Na verdade tratou-se de apenas um paciente dos 340 que foram randomizados para o grupo ticlopidina que teve o efeito e que foi rapidamente revertido após a suspensão da ticlopidina!!
Mas, de toda forma, o clopidogrel realmente foi bem mais tolerado do que a ticlopidina. A cada 22 pacientes tratados com clopidogrel, previniu-se uma suspensão indevida da medicação devido a efeitos colaterais.
Referência: Bertrand ME et al. Double-blind study of the safety of clopidogrel with and without a loading dose in combination with aspirin compared with ticlopidine in combination with aspirin after coronary stenting : the clopidogrel aspirin stent international cooperative study (CLASSICS). Circulation 2001.