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Por que a nova diretriz de ECG sugere abandonar o termo infarto posterior?
Escrito por
Eduardo Lapa
Publicado em
6/12/2016
Já falamos neste post sobre a questão da nomenclatura do infarto posterior e porque este termo não vem sendo mais usado, inclusive sendo abandonado pelas III Diretrizes de ECG da SBC. Como explicado no post, geralmente quando o ECG apresenta achados do chamado infarto posterior, o que ocorre na prática é acometimento isquêmico da parede lateral do VE. Estes conceitos foram sedimentados por uma série de trabalhos usando ressonância magnética cardíaca feitos pelo Dr Bayes de Luna. Em seu livro de eletrocardiografia, ele detalha de forma bastante interessante os motivos. Para ficar didático, vamos lembrar a figura que usamos no outro post:
Pelo conceito dos trabalhos da década de 1960 (Perloff, 1964) a parede posterior corresponderia à parte basal da parede inferior do VE a qual se inclinaria para cima e posteriormente. Assim, as derivações posteriores (V7, V8 e V9) captariam estímulos elétricos deste segmento do VE. Contudo, os estudos com ressonância mostraram que esta conformação mostrada acima está presente em apenas 5% da população, sendo geralmente encontrada em pacientes longilíneos. Exemplo:
Nestes casos o VE tem formato em U e a parede inferior de fato se situa completamente posterior.
Em outros 27% dos casos, o VE tem o formato em G, onde apenas a porção basal da parede inferior "se eleva" ficando assim com uma posição mais posterior.
E no restante da população (2 em cada 3 indivíduos), a parede inferior fica completamente deitada sobre o diafragma, não tendo assim nenhum componente "posterior".
Este formato de VE é comumente encontrado em pacientes com sobrepeso/obesidade.
Resumindo, na maioria dos indivíduos, a parede inferior não possui nenhum segmento localizado de forma posterior em relação ao tórax.
E só ratificando:
Antigo infarto "posterior" ou "dorsal" = acometimento da parede lateral do VE
Referências:
de Luna, AB. Clinical Electrocardiography. 2012.