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A onda U pode ser um achado eletrocardiográfico normal, principalmente em paciente jovens e vagotônicos. Neste cenário, geralmente são vistas nas derivações precordiais de V2-4, sempre têm a mesma polaridade da onda T, mas com menor amplitude. Entretanto, a onda U pode estar presente em condições patológicas, sendo a hipocalemia, o exemplo mais frequente da prática clínica. Quando a onda U é maior que a T e/ou tem polaridade diferente da onda T, ela é sempre patológica.
Os cursos de ECG ensinam que onda U não tem uma origem totalmente estabelecida até o momento, porém há algumas teorias que tentam explicar a sua gênese:
- Ela estaria relacionada à repolarização dos músculos papilares;
- Ou à repolarização das células M (no interior do miocárdio),
- Ou à repolarização das fibras de Purkinje.
Um artigo recentemente publicado no Journal of Electrocardiology, volume 79, july-August 2023, Pages 13-20, fez uma revisão sobre a onda U, assim como sobre a sua origem eletrofisiológica. As principais teorias descritas pelos autores sobre a origem da onda U são:
- Teoria da repolarização atrasada (retardada) e/ou despolarização tardia:
Síndrome dos músculos papilares significa que a onda U representa a repolarização atrasada dos músculos papilares e das estruturas que os circundam. Watanabe propôs que a onda U estaria relacionada à repolarização do sistema de fibras de Purkinje subendocárdico. A repolarização atrasada também poderia ser causada pela despolarização tardia dos músculos papilares e estruturas miocárdicas subjacentes que causam um atraso no início do potencial de ação (PA) quando se compara as camadas de células endocárdicas e epicárdicas.
- Teoria da repolarização prolongada:
Esta teoria sugere que ondas U normais estão relacionadas à ativação elétrica das células M, que se encontram no meio do miocárdio ventricular, visto que o PA destas células dura além do final da onda T. As células M são mais comuns que as fibras de Purkinje e representam 30-40% da massa celular do ventrículo esquerdo. As células M que estão acopladas ao endocárdio e epicárdio provavelmente desempenham um papel na gênese das ondas U patológicas (ex. hipocalemia e SQTL).
- Teoria do alongamento (estiramento) elétrico-mecânico.
Surawicz e cols. propuseram em 1998 que a real origem da onda U era um fenômeno elétrico-mecânico, mas as evidências desta teoria ainda são escassas. De acordo com os autores, a onda U se originaria do PA causado pelo alongamento (estiramento) mecânico durante o relaxamento ventricular, após a completa repolarização miocárdica.
Como demonstrado acima, os mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos que explicam a gênese da onda U ainda não são totalmente conhecidos, nem aqueles responsáveis pelas ondas U normais, nem aqueles pelas ondas U anormais e suas variações.
Uma onda U negativa ou a modificação na sua morfologia pode indicar isquemia miocárdica, hipertrofia ventricular esquerda ou sobrecargas, como as que ocorrem na hipertensão arterial sistêmica e estenose aórtica. Uma onda U negativa é também um marcador de pior prognóstico em homens, tanto para morte cardíaca como para morte por todas as causas.
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