Inversão de onda T em V1 e V2: normal ou patológico?

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Inversão de onda T em V1 e V2: normal ou patológico?

Já vimos em outro post que a onda T invertida em V1 é considerada achado normal. Mas, e se virmos inversão de onda T de V1 a V4? Isso pode ser normal? Há estudos mostrando que tal padrão pode ser encontrado em pacientes afrodescendentes sem indicar anormalidade cardíaca. Contudo, em pacientes de raça branca havia uma carência de dados sobre isto. Com este objetivo, foi publicado um estudo no JACC. Vejamos os detalhes.

Entre 2007 e 2013, 14.646 indivíduos de raça branca (32% mulheres) no Reino Unido, com idade entre 16-35 anos, foram avaliados com um questionário de saúde, exame físico e electrocardiograma de 12 derivações. A seleção incluiu 2.958 (20,2%) atletas que exerceram ≥8 horas por semana, e 11.688 (79,8%) não-atletas (≤2 horas de atividade física organizada por semana).

A inversão da onda T anterior foi definida como: inversão da onda T em ≥2 derivações anteriores contíguas (V1-V4). Um ECO TT  foi realizado entre todos os indivíduos com inversão de onda T anterior e entre alguns atletas sem inversão de onda T. Além disso, alguns testes adicionais foram realizados incluindo eletrocardiograma alta resolução (93%), ressonância magnética cardíaca (74%), teste ergométrico (81%) e HOLTER(87%).

Resultados:      A inversão da onda T anterior foi detectada em 338 indivíduos (2,3%);  foi mais comum em mulheres do que em homens (4,3% vs 1,4%, p <0,0001) e entre atletas em comparação com não-atletas (3,5% versus 2,0% p <0,0001). A inversão da onda T foi predominantemente confinada às derivações V1-V2 (77%). Apenas 1,2% das mulheres e 0,2% dos homens apresentaram inversão da onda T além de V2. Ninguém com inversão de onda T anterior preenchia critérios diagnósticos para cardiomiopatia ventricular direita arritmogênica (ARVC) após uma avaliação posterior. Durante um seguimento médio de 23,1 ± 12,2 meses, nenhum dos indivíduos com inversão de onda T anterior apresentou um evento adverso.

Conclusões - Os autores concluíram que a inversão da onda T anterior confinada a V1-V2 é uma variante normal ou um fenômeno fisiológico em indivíduos brancos assintomáticos sem história familiar relevante.  A inversão da onda T anterior além da V2 é rara, particularmente nos homens, e pode justificar investigação adicional.

Perspectiva:

O artigo faz uma reafirmação para os critérios de Seattle2 que já reconhecia a inversão de onda T nas derivações precordiais como variante normal, em detrimento da diretriz europeia que recomendava avaliação adicional de todos estes indivíduos. De forma prática considero valioso o dado de se estabelecer que atletas brancos, sem bloqueio de ramo direito completo e possuem inversão de onda T em V1 e V2 são variantes do normal e não necessita realizar eco ou qualquer exame adicional. Chama atenção ainda o fato que a maior ocorrência de inversão em mulheres ocorre principalmente na era pós púbere, o que nos leva à possibilidade de que a mama pode ter interferido em parte nesta maior ocorrência de alteração em atletas do sexo feminino.

       
  1. Malhotra, A. et al., 2017. Anterior T-Wave Inversion in Young White Athletes and Nonathletes Prevalence and Significance. J Am Coll Cardiol, 69(1), pp.1–9.
       
  1. Brosnan, M. et al., 2014. The Seattle Criteria increase the specificity of preparticipation ECG screening among elite athletes. British journal of sports medicine, 48(15), pp.1144–50..