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A semaglutida é capaz de reduzir albuminúria e melhorar a função renal?
Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
14/3/2023
Em pacientes com sobrepeso/ obesidade, com ou sem diabetes mellitus, a semaglutida é capaz de reduzir albuminúria e melhorar a função renal?
Os atuais guidelines que abordam o tratamento de pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 recomendam intervenções no estilo de vida, agentes antidiabéticos para otimizar o controle glicêmico e tratamento farmacológico com inibidores do sistema renina-angiotensina (RAS) e cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2 ) para retardar a progressão da perda da função renal e reduzir a incidência de eventos cardiovasculares. No entanto, o risco residual cardiovascular e renal permanece presente mesmo com o tratamento recomendado pelas diretrizes.
Em parte, esse alto risco residual de declínio da função renal está associada aos níveis persistentemente elevados de albuminúria. Portanto, são necessárias novas estratégias de tratamento que reduzam ainda mais o peso corporal, melhorem o controle glicêmico e reduzam direta ou indiretamente a albuminúria. Nesse contexto, foi publicada na Diabetes Care uma análise post hoc dos ensaios do Semaglutide Treatment Effect in People with obesity (STEP) 1–3, explorando os efeitos da semaglutida subcutânea (até 2,4 mg) sobre a função renal.
Os estudos STEP 1–3 incluíram adultos com sobrepeso/obesidade, e os pacientes do STEP 2 também tinham DM2. Os participantes receberam uma vez por semana semaglutida subcutânea 1,0 mg (STEP 2 apenas), 2,4 mg ou placebo por 68 semanas, mais intervenção no estilo de vida (STEP 1 e 2) ou terapia comportamental intensiva (STEP 3). As alterações na relação albumina/creatinina na urina foram avaliadas com os dados do STEP 2. As alterações na taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) foram avaliadas a partir dos dados agrupados do STEP 1-3.
No estudo STEP 2, no grupo placebo, a relação albumina/creatinina na urina aumentou 18,3%. Nos grupos de dose de 1,0 mg e 2,4 mg de semaglutida, o mesmo marcador teve redução de 14,8% e 20,6%, respectivamente, na semana 68. Consequentemente, a diferença percentual média em comparação com o placebo na semana 68 foi de -28,0% (p < 0,0001) e -32,9% (p = 0,003) nos grupos semaglutida 1,0 mg e 2,4 mg, respectivamente. Apesar dos benefícios observados na albuminúria, a semaglutida não afetou a TFGe ao longo do tempo no grupo de participantes dos três ensaios, dos quais a grande maioria tinha função renal normal.
A frequência de eventos adversos potencialmente relacionados à função renal foi semelhante nos ensaios STEP 1 e 2 e foi relativamente baixa. No STEP 3, não houve relato de eventos de insuficiência renal aguda. No geral, a semaglutida foi bem tolerada, sem aumento de eventos adversos que levaram à descontinuação do medicamento em estudo. Náuseas e vômitos ocorreram mais frequentemente com semaglutida do que com placebo.
Diante os resultados apresentados, há uma maior expectava pelos resultados de ensaios já em andamento que buscam avaliar a capacidade de proteção renal da semaglutida em pacientes de alto risco.
Hiddo J.L. Heerspink, Ellen Apperloo, Melanie Davies, Dror Dicker, Kristian Kandler, Julio Rosenstock, Rasmus Sørrig, Jack Lawson, Niels Zeuthen, David Cherney; Effects of Semaglutide on Albuminuria and Kidney Function in People With Overweight or Obesity With or Without Type 2 Diabetes: Exploratory Analysis From the STEP 1, 2, and 3 Trials. Diabetes Care 2023