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Posso usar novos anticoagulantes em pacientes com fibrilação atrial e valvopatia?
Escrito por
Eduardo Castro
Publicado em
12/4/2017
A fibrilação atrial (FA) é uma afecção clínica extremamente comum. A ocorrência assim como a prevalência da FA é maior na população acima de 75 anos, o que varia entre 8 e 10% nos indivíduos nesta faixa etária. Entretanto, sua ocorrência não é uniforme e pode acometer um grupo mais jovem e pouco representado nos estudos, a exemplo dos pacientes com febre reumática, que é rara em países desenvolvidos e prevalente em países em desenvolvimento.
Entre os estudos que avaliaram o uso dos novos anticoagulantes orais (NOACs – RELY2, ARISTOTELE3, ROCKET-AF4 e ENGAGE AF-TIMI 485) no cenário deprofilaxia de eventos cardioembólicos em pacientes com FA não valvar, cerca de 70% dos pacientes foram alocados por centros americanos e europeus, com estimativa de 6% de pacientes latino americanos1.
Estas diferenças são de extrema importância pois impactam na aplicabilidade destes estudos na nossa prática onde a prevalência de reumáticos, restrições alimentares, enormes diferenças sócio culturais e dificuldades de ajuste de INR dificultam o uso da varfarina.
Recente estudo publicado no JACC6 faz uma análise combinada dos 4 maiores estudos comparativos entre NOACs e varfarina, comparando a eficácia clínica e sangramento grave entre pacientes com e sem lesão valvar.
O estudo obviamente tem limitações das quais podemos destacar:
1- Os autores não tiveram acesso ao banco de dados completo e fizeram uma análise comparativa com os dados publicados,
2- Os estudos, apesar de todos serem de não inferioridade, são diferentes ( RE-LY não foi duplo cego e o ROCKET-AF não fez análise por intenção de tratar e o TTR do grupo placebo era menor que 60%), apresentavam diferentes critérios de inclusão e exclusão.
3 – Houve diferenças significativas de heterogeneidade estatística no que tange a sangramento entre os estudos.
Mesmo com limitações, o estudo vem aos encontro aos dados já conhecidos em análises individuais, aos registros publicados e e ao conjunto dos trabalhos originais. Entre as conclusões podemos destacar:
- Em pacientes com fibrilação atrial e morbidade valvar (excluindo-se estenose mitral moderada a grave e válvula metálica) os NOACs são uma opção atrativa a varfarina,
- A ocorrência de sangramento é cerca de 50% menor entre os pacientes com valvopatias e em uso de NOACs
- O fato de não possuirmos um “antidodo” para os NOACs não deveria ser um empecilho porque na pratica não dispomos de complexo protrombínico na maioria dos hospitais brasileiros (plasma fresco e crioprecipitados não conseguem reverter os efeitos da varfarina de forma eficaz)
- No caso de próteses mecânicas e de estenose mitral relevante, não há alternativa estudada adequadamente fora a varfarina.
Referências:
- Huisman, M. V et al., 2017. The Changing Landscape for Stroke Prevention in AF. J Am Coll Cardiol, 69(7), pp.777–85.
- Saglio, G. et al., 2010. Dabigatran versus Warfarin in Patients with Atrial Fibrillation Stuart. The New England journal of Medicine, 362(24), pp.2251–2259.
- Amario, D.D. et al., 2011. Rivaroxaban versus Warfarin in Nonvalvular Atrial Fibrillation. New England Journal Medicine, 365, pp.1795–1806.
- Saglio, G. et al., 2010. Apixaban versus Warfarin in Patients with Atrial Fibrillation. The New England journal of Medicine, 362(24), pp.2251–2259.
- Giugliano, R.P. et al., 2013. Edoxaban versus warfarin in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med, 369(22), pp.2093–104.
- Giulia Renda, MD, PHD., 2017. Non – Vitamin K Antagonist Oral Anticoagulants in Patients With Atrial Fibrillation and Valvular Heart Disease. J Am Coll Cardiol, 69(11), pp.1363–71.