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Vale a pena prescrever reabilitação cardíaca para pacientes com câncer?
Escrito por
Eduardo Lapa
Publicado em
8/5/2019
Texto escrito pela Dra Mônica Samuel Ávila. A sobrevida dos pacientes com câncer tem aumentado muito nos últimos anos devido a detecção precoce e sucesso todo tratamento. A sobrevida e qualidade de vida desses pacientes ficam limitadas a outras condições, principalmente de doenças cardiovasculares (DCV). O aumento do risco de DCV nesses pacientes é resultado de fatores diretos relacionados ao tratamento do câncer, como cardiotoxidade relacionada a quimioterapia/radiação, ou fatores indiretos, como descondicionamento e ganho de peso.
Estratégias para diminuir o risco CV nos pacientes com câncer ou sobreviventes ao câncer têm emergido nos últimos anos. A adoção a reabilitação cardíaca (RC) é uma dessas estratégias e foi publicado recentemente um posicionamento da American Heart Association propondo um modelo de reabilitação cardíaca em cardio-oncologia, com objetivo de guiar e incluir a reabilitação como tratamento padrão nos pacientes com câncer e risco cardiovascular aumentado.
Alguns estudos randomizados examinaram a eficácia do exercício físico na população com câncer durante e após a terapia adjuvante. A evidência indica que o exercício físico pode atenuar o declínio da função cardiorrespiratória causada pelo tratamento do câncer. Já é conhecido que uma baixa função cardiorrespiratória está ligada a doenças cardiovasculares, fadiga e mortalidade.
O posicionamento propõe um algoritmo para definir quem são os pacientes que deveriam ser avaliados para RC, descrito abaixo.
O protocolo utilizado da reabilitação deve considerar idade, atividade física habitual e a capacidade funcional do paciente. O posicionamento publicado combinou os componentes tradicionais da RC com as necessidades específicas dos pacientes com câncer e sugeriu os componentes da reabilitação em cardio-oncolgia listados a seguir:
Reabilitação CardíacaReabilitação em cardio-oncologiaAvaliação do pacienteRevisão das terapias contra o câncer e possíveis efeitos colateraisAvaliar as condições de saúde que prejudicam o exercícioAvaliar linfedema, ostomia e risco de infecçãoRevisão para doença metastática, presença / estágio e prontidão para o exercício vs reabilitação do câncer se metástase ósseaRever a contagem completa de células sanguíneasRastreio de depressão, fadiga e qualidade de vidaRealizar avaliação cardiopulmonarAconselhamento nutricionalRecomendações nutricionais específicas do câncerEnvolvimento de nutricionistas especializados em câncerManejo do pesoAvaliar problemas do peso - perda de peso, perda de massa muscular magra e ganho de massa gorda- que são específicos do câncerAdaptar o treinamento aeróbico e de resistênciaAdministração da Pressão ArterialRevise os agentes quimioterápicos que causam hipertensãoReavaliar pressão antes de cada treinoManejo de dislipidemiaDefinição de prevenção primária de DCV: seguir as diretrizes atuaisSe a terapia com estatina for recomendada, uma nova revisão dos medicamentos é necessária para evitar possíveis interações medicamentosas.Manejo do Diabetes MellitusReconhecer agentes quimioterápicos que pioram controle glicêmicoEncaminhar para centro médico para controle glicêmicoCessação do tabacoEncaminhamento para o programa de cessação do tabagismoPsicossocialDesenvolver uma rede de referência de serviço social e profissionais da saúde mental que apóiam o cuidado e tratamento de pacientes com câncerAconselhamento de atividade físicaEnfatizar os riscos para a saúde de períodos prolongados de sentarO objetivo é um aumento da atividade física no estilo de vida habitual e diminuição do tempo sedentárioExercício físicoTreinamento aeróbico e de resistência. Prescrição baseada nas diretrizes da cardiologia do esporte específicas para pacientes com câncerTreinamento de exercício supervisionadoIncorporação de estratégias de mudança comportamental demonstrado eficaz para pacientes com câncer e sobreviventes
O exercício físico de resistência devem basear-se tanto em 1 repetição máxima (60% –70% 1 repetição máxima de braço e perna) em conjunto com a carga apropriada para manter a forma ideal de 8 a 10 repetições até fadiga muscular para os principais grupos musculares. O exercício aeróbico moderado é recomendado para pacientes com câncer, embora determinando intensidade moderada possa ser um desafio nessa população, dado o uso de β-bloqueadores, a prevalência de disfunção autonômica e o uso de terapias atuais que afetam frequência cardíaca em repouso. Portanto, a formalização do teste cardiopulmonar permite orientação para determinar a intensidade apropriada de exercício aeróbico. Uma determinação de intensidade moderada com base no esforço percebido (classificação da percepção esforço de 4-6 na escala de Borg [variação, 0–10]) e frequência cardíaca máxima (50% –70% da frequência cardíaca máxima) alcançada durante o teste de exercício cardiopulmonar pode orientar recomendações de intensidade moderada.
Mais pesquisas são necessárias para demonstrar uma redução da disfunção cardíaca em pacientes com câncer inscritos nos programas de reabilitação em cardio-oncologia, aumentando assim os encaminhamentos e a probabilidade de cobertura de seguro para pacientes com câncer. Se realizado, a reabilitação em cardio-oncologia tem o potencial de crescer exponencialmente dentro de uma infraestrutura da reabilitação cardíaca existente, fornecendo um programa multimodal amplamente acessível para pacientes com câncer nos que é atualmente não disponível.
Referência
Susan C. Gilchrist, MD, MS, Chair, Ana Barac, MD, PhD, Vice Chair, Philip A. Ades, MD, Catherine M. Alfano, PhD, Barry A. Franklin, PhD, FAHA, Lee W. Jones, PhD, Andre La Gerche, MBBS, PhD, Jennifer A. Ligibel, MD, Gabriel Lopez, MD, Kushal Madan, PhD, FAHA, Kevin C. Oeffinger, MD, Jeannine Salamone, BA, Jessica M. Scott, PhD, Ray W. Squires, PhD, FAHA, Randal J. Thomas, MD, MS, FAHA, Diane J. Treat-Jacobson, PhD, RN, FAHA, Janet S. Wright, MD, On behalf of the American Heart Association Exercise, Cardiac Rehabilitation, and Secondary Prevention Committee of the Council on Clinical Cardiology; Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; and Council on Peripheral Vascular Disease Cardio-Oncology Rehabilitation to Manage Cardiovascular Outcomes in Cancer Patients and Survivors: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation. 2019 Apr 8:CIR0000000000000679.