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Tratamento do diabetes na prática: cada vez pior?
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
14/6/2021
Nos últimos 5 anos, fomos apresentados a uma série de inovações no tratamento do diabetes. Agentes que não só melhoram o controle glicêmico, mas que reduzem desfechos cardiovasculares e mortalidade. Os mecanismos são os mais diversos, alguns ainda desconhecidos. O binômio risco cardiovascular x diabetes nunca esteve tão presente e nunca foi tão fácil indicar um agente que tivesse potencial benefício na redução de tais eventos.
A realidade porém, parece cada dia pior. Recentemente foram publicados os dados atualizados até 2018 do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) , estudo populacional americano sobre o controle do diabetes e dos principais fatores de risco cardiovascular associados: Hipertensão e Dislipidemia. Números preocupantes! O percentual de pacientes com controle glicêmico adequado (Hb glicosilada < 7%) caiu de 57,4% em 2010 para 50,5% em 2018. O controle lipídico (com a controversa definição de colesterol não HDL < 130 mg/dl) ficou em 55,7% e o controle da hipertensão (PA < 140 x 90 mmHg) em 70,4%. Quando consideradas as três metas em conjunto, apenas 22,2% dos pacientes poderiam ser classificados como “controlados”.
O problema está na inércia terapêutica. Quando analisados os pacientes fora da meta glicêmica, encontramos 40% destes usando apenas 1 medicamento, 38% com duas medicações e apenas 22% com terapia tripla. Apenas 7,1% usavam iSGLT2 ou aGLP1, agentes recomendados como primeira linha associados à metformina, por reduzirem peso e risco cardiovascular além da glicemia. A baixa adesão à terapia hipolipemiante (56,3% usam estatinas) e anti-hipertensiva (60,3% usando iECA ou BRA) reforçam a impressão de descaso do sistema de saúde em relação a essa população.
Após quase duas décadas de seguimento, os números apresentados apontam para maior risco de complicações microvasculares (neuropatia, retinopatia e nefropatia), macrovasculares (IAM e AVC) e de mortalidade entre adultos americanos portadores de diabetes. Dados brasileiros ainda não são tão robustos, porém apontam uma situação provavelmente pior. A divulgação de informação médica de qualidade e o incentivo à intensificação precoce do tratamento do diabetes e dos fatores de risco associados são passos fundamentais na busca de uma maior proteção para essa parcela significativa da nossa população.
Referência: