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O uso do topiramato como agente terapêutico na obesidade tem sido aplicado na prática clínica, embora ainda de forma *off label*. Inicialmente desenvolvido como anticonvulsivante, o topiramato também é aprovado para a profilaxia da enxaqueca. Contudo, a observação de perda de peso como efeito colateral em pacientes com epilepsia levou à exploração de seu potencial na abordagem farmacológica da obesidade.
##Mecanismo de ação
Apesar do seu mecanismo de ação para perda de peso não ser completamente compreendido, há algumas hipóteses fisiopatológicas relevantes. O topiramato atua em múltiplas vias do sistema nervoso central: bloqueia canais de sódio e cálcio, inibe a anidrase carbônica e potencializa a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA). Essas ações se associam à redução do apetite, maior sensação de saciedade e possível modulação do comportamento alimentar compulsivo.Em modelos animais, foi demonstrado que o topiramato não apenas reduz a ingestão alimentar, mas também aumenta a termogênese e a oxidação de gorduras, provavelmente por meio do estímulo à lipoproteína lipase em tecido adiposo marrom e músculo esquelético.
##Eficácia na perda de peso
Estudos realizados desde o início dos anos 2000 demonstraram a eficácia do topiramato na redução de peso corporal. As doses testadas variaram entre 64 mg e 384 mg por dia, sendo que os melhores resultados com menos efeitos adversos foram observados até cerca de 192 mg por dia. Além da perda de peso significativa, um achado importante foi a manutenção da perda ponderal por mais de um ano de uso contínuo — o que contrasta com o platô geralmente observado com outras medicações a partir de 6 meses de uso. Em pacientes com transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP), o topiramato também mostrou-se eficaz tanto na redução do peso quanto na diminuição dos escores de compulsão, sendo uma das melhores opções medicamentosas para esse subgrupo.
##Efeitos adversos
Apesar da eficácia, o uso do topiramato é limitado por um perfil de efeitos adversos considerável. Os mais comuns incluem:
- Parestesias, sonolência, alterações cognitivas (dificuldade de concentração, memória, pensamento lento), alterações do humor (depressão, irritabilidade), perda de paladar ou sabor metálico, risco aumentado de nefrolitíase (devido à inibição da anidrase carbônica). Esses efeitos tendem a ser dose-dependentes e são os principais responsáveis pela descontinuação do tratamento por parte dos pacientes.
##Considerações práticas
O topiramato não possui aprovação para tratamento de obesidade no Brasil, sendo utilizado de forma *off label* em casos específicos. Seu uso deve ser individualizado e cauteloso, especialmente em pacientes com transtornos cognitivos ou risco de cálculo renal. A introdução geralmente começa com doses baixas (ex: 25 mg à noite) e a titulação deve ser lenta para melhor tolerabilidade. Grupos de pacientes que podem se beneficiar do topiramato incluem aqueles com obesidade associada a: TCAP (com acompanhamento psiquiátrico), enxaqueca, epilepsia.