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Sulfato de Magnésio para Controle da Resposta Ventricular em Fibrilação Atrial – Funciona?
Escrito por
Pedro Veronese
Publicado em
25/1/2021
Sulfato de Magnésio para Controle da Resposta Ventricular em Fibrilação Atrial: funciona?
Essa foi a pergunta que um estudo publicado em 2018 tentou responder. Pacientes > 18 anos, com fibrilação atrial (FA) e alta resposta ventricular > 120 bpm que deram entrada no serviço de emergência foram randomizados em três grupos; 153 pacientes receberam 9,0 g de sulfato de magnésio - MgSO4 (grupo alta dose); 148 pacientes receberam 4,5 g de MgSO4 (grupo baixa dose); 149 pacientes receberam solução salina (grupo placebo). Todos receberam fármacos antiarrítmicos (digoxina, diltiazem ou betabloqueadores - BB) em associação ao MgSO4. Os critérios de exclusão foram pressão sistólica < 90 mmHg, rebaixamento do nível de consciência, insuficiência renal, taquicardia com QRS largo, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca classe funcional III – IV da NYHA, doença do nó sinusal ou contraindicação para MgSO4.
A infusão do MgSO4 foi realizada em 30 minutos após diluição em 100 mL de solução salina. O antiarrítmico mais utilizado foi digoxina, que variou de 44,5% a 50,7 % entre os 3 grupos, seguido do diltiazem, que variou de 29% a 33,3%, e por último BB, que variou de 20,3% a 22,2%.
O desfecho primário foi a redução da resposta ventricular da FA ≤ 90 bpm ou redução da resposta ventricular ≥ 20% em relação aos valores basais. O desfecho secundário foi o tempo necessário para a resposta terapêutica, a taxa de reversão para ritmo sinusal e os efeitos adverso nas primeiras 24h.
Em 4 h, a resposta terapêutica foi maior nos grupos que receberam MgSO4 comparados ao placebo (p ≤ 0,05), respectivamente: grupo alta dose 59,5% (57,1% - 67,3%), grupo baixa dose 64,2% (56,5% - 71,9%) e grupo placebo 43,6% (35,7% - 51,6%). Isso também foi observado em 24 h, respectivamente: 94,1% (90,4% - 97,8%), 97,9% (95,7% - 100%) e 83,3% (77,2% – 89,2%). Flush facial foi o principal efeito colateral da infusão de MgSO4.
A conclusão dos autores foi que a infusão IV do MgSO4 pareceu ter efeito sinérgico quando combinada com bloqueadores do nó AV resultando em melhor controle de frequência. As doses de 9,0 g e 4,5 g mostraram eficácia semelhante, porém a menor dose apresentou menos efeitos colaterais.
Comentário Cardiopapers:
Apesar de se tratar de um estudo randomizado, controlado e duplo-cego, não existem muitas evidências na literatura sobre o uso de magnésio com esse objetivo, talvez o que explique a sua baixa utilização na prática clínica no Brasil. Outra questão relevante, atualmente, é que a digoxina não é droga classe I para controle de frequência nos diversos Guidelines de FA, mas foi o antiarrítmico mais utilizado neste estudo. É importante destacar que a randomização neste estudo ocorreu de 2009 a 2014.
Na prática, o sulfato de magnésio constitui medicação segura e com poucos efeitos colaterais. Desta forma, pode ser utilizado como adjuvante neste cenário sem grandes ressalvas.
Referência
ACADEMIC EMERGENCY MEDICINE 2019;26:184–191. doi: 10.1111/acem.13522