Standards of Care 2025 - posicionamento contra a suplementaçao de vitamina D para prevençao de diabetes.

Compartilhe

O recente guideline da Endocrine Society sobre a suplementação empírica de vitamina D para prevenção de doenças recomendou a utilização da vitamina D para prevenção de diabetes mellitus.

Antes de maiores considerações, é preciso ressaltar que essa recomendação é dirigida a indivíduos com “pré-diabetes de alto risco”, definido por:

- Intolerância a glicose – glicemia de 2h no TOTG entre 140 e 199 mg/dl ou

- Glicemia de jejum alterada e HbA1c entre 5,7 e 6,4%.

Encontramos na literatura três ensaios clínicos randomizados projetados e conduzidos para testar se a terapia com vitamina D em combinação com modificação do estilo de vida reduz o risco de desenvolver diabetes em adultos com pré-diabetes: o estudo de Tromsø na Noruega, com 511 participantes; o estudo Vitamina D e Diabetes Tipo 2 (D2d) nos EUA, com 2.423 participantes; e o estudo Prevenção de Diabetes com Vitamina D Ativa (DPVD) no Japão, com 1.256 participantes. Nesses estudos, a terapia com vitamina D reduziu modestamente o risco de desenvolver diabetes em comparação com o placebo em um grau quase idêntico, porém nenhum dos resultados individuais foi estatisticamente significativo (supostamente devido ao poder insuficiente).

Mais recentemente, tivemos a publicação do Standards of Care da American Diabetes Association, um dos principais documentos de orientação para o tratamento do Diabetes. Em seu capítulo Prevention or Delay of Diabetes and Associated Comorbidities a entidade se posiciona contra a recomendação da utilização de vitamina D para prevenção de diabetes. A publicação considera os estudos já citados, porém argumenta que as meta-análises relacionadas a esses estudos (e outros menores) sugeriram um benefício potencial modesto em populações específicas. No entanto, enumera preocupações e incertezas quanto à recomendação da utilização generalizada da vitamina D para adultos com pré-diabetes de alto risco, as principais são:

1) A dose recomendada de vitamina D não é clara.

Os ensaios incluídos usaram dosagens variadas de vitamina D que eram maiores do que a dose diária recomendada para essa população (ou seja, 600 UI/dia para aqueles com idade entre 18 e 70 anos e 800 UI para aqueles com mais de 70 anos). Devido a essa variabilidade, não é possível recomendar uma dosagem específica de vitamina D para prevenção do diabetes.

2) A relação risco-benefício da terapia com vitamina D para pré-diabetes de alto risco permanece incerta.

Embora não tenham ocorrido maiores preocupações de segurança nos estudos, o número de adultos incluídos é pequeno em comparação com os muitos milhões de adultos com pré-diabetes nos globalmente que podem ter risco de eventos adversos se tratados com doses não especificadas de vitamina D, principalmente considerando a proposta de suplementação empírica, sem monitorizaçao dos níveis plasmáticos de vitamina D ou cálcio.

À luz dessas e de outras questões, o Standards of Care refere que pesquisas adicionais são necessárias para definir melhor as características da população, determinar a dose e a própria eficácia da terapia com vitamina D para prevenção do diabetes. Nenhum agente farmacológico foi aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA para prevenção do diabetes tipo 2, nem mesmo a metformina, único agente aprovado no Brasil. O risco-benefício de cada medicamento, além dos custos e ônus da utilização devem ser considerados. Cabe lembrar que as intervenções farmacológicas devem ser mantidas em longo prazo, considerando a perda de eficácia após a interrupção. A adesão a intervenções não farmacológicas como o ajuste alimentar e a prática regular de atividades físicas seguem como principal recomendação.