Guideline recomenda Vitamina D para a prevenção de diabetes: entenda!

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Em um texto anterior, publicado neste mesmo site, apresentamos a primeira parte das recomendações do recente guideline da Endocrine Society sobre a suplementação empírica de vitamina D para prevenção de doenças.  Nesta segunda parte, discutiremos a controversa recomendação desse documento sobre vitamina D para prevenção de diabetes mellitus.

 

A décima recomendação do guideline em questão apresenta o seguinte texto: “para adultos com pré-diabetes de alto risco, além da modificação do estilo de vida, sugerimos a suplementação empírica de vitamina D para reduzir o risco de progressão para diabetes.”

 

Uma revisão sistemática citada pelo painel que elaborou o consenso incluiu 15 ensaios clínicos randomizados (ECRs) que relataram o efeito do colecalciferol ou ergocalciferol na HbA1c em adultos com pré-diabetes, 12 ECRs que analisaram a glicemia em jejum e 13 ECRs que relataram efeitos sobre a glicemia 2 horas após uma carga oral de glicose de 75 gramas (TOTG). Em comparação com o placebo, a vitamina D reduziu a glicemia em jejum (diferença média -5,3 mg/dL]) e a glicemia de 2 horas após um teste oral de tolerância à glicose de 75 gramas (diferença média -7,6 mg/dL). Houve apenas uma tendência da vitamina D diminuir a HbA1c (diferença média -0,05%).

 

Não existem estudos de custo-efetividade da vitamina D na prevenção de diabetes, em adultos com pré-diabetes. No entanto, os autores consideraram que há ampla evidência de valor econômico substancial na prevenção do desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 com intervenções não relacionadas à vitamina D (por exemplo, estilo de vida, metformina) que são mais caras, na opinião dos autores, e difíceis de implementar do que a vitamina D.Portanto, o painel concluiu que é provável que haja economia de custos com o uso da vitamina D na prevenção do diabetes.

 

O guideline aponta que os benefícios da suplementação de vitamina D podem atingir preferencialmente aqueles com maior risco de deficiência de vitamina D. Esse benefício pode ser maior para aqueles com nível basal de 25(OH)D inferior a 12 ng/mL. No entanto, os autores não recomendam a solicitação rotineira da dosagem de vitamina D em adultos com pré-diabetes. A suplementação, quando indicada, seria empírica.

 

Percebemos várias fragilidades nessa recomendação.A vitamina D, pelo menos aqui no Brasil, não é uma alternativa mais barata e mais disponível que mudanças do estilo de vida ou até mesmo que a metformina. Além disso, os autores ignoraram o fato de que tal suplementação pode não ter qualquer benefício em pacientes com níveis normais ou pouco reduzidos de vitamina D e não recomendam a avaliação do status da vitamina D, antes da suplementação. Mas, uma vez provocados pelo guideline, entendemos a necessidade de estudos maiores de intervenção que possam fornecer evidências mais robustas do benefício da vitamina D para a prevenção do DM2.

Referência: Marie B Demay, Anastassios G Pittas, Daniel D Bikle, Dima L Diab, Mairead E Kiely, Marise Lazaretti-Castro, Paul Lips, Deborah M Mitchell, M Hassan Murad, Shelley Powers, Sudhaker D Rao, Robert Scragg, John A Tayek, Amy M Valent, Judith M  E Walsh, Christopher R McCartney, Vitamin D for the Prevention of Disease: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline, The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, 2024