A ingestão de proteína pode reduzir o risco de hipoglicemia no DM1?

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A hipoglicemia é uma das complicações mais comuns e preocupantes no manejo do Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1). Episódios frequentes de hipoglicemia podem comprometer a qualidade de vida dos pacientes, afetando sua capacidade de realizar atividades diárias, incluindo a prática de exercícios físicos. A alimentação desempenha um papel crucial no controle glicêmico, e pesquisas recentes sugerem que a ingestão de proteína pode ajudar a mitigar o risco de hipoglicemia em indivíduos com DM1.

O impacto da proteína na resposta glicêmica
Embora o carboidrato seja tradicionalmente reconhecido como o principal macronutriente que influencia a glicemia pós-prandial, evidências sugerem que a proteína também tem um papel significativo na regulação da glicose sanguínea. A ingestão de proteína pode estimular a secreção de glucagon, um hormônio contrarregulador da insulina que promove a produção endógena de glicose pelo fígado.
Estudos indicam que o consumo de refeições ricas em proteínas pode prolongar a elevação da glicose no sangue por várias horas após a ingestão. Em indivíduos com DM1, essa resposta é particularmente relevante, pois pode ajudar a manter os níveis glicêmicos dentro da faixa alvo e reduzir o risco de hipoglicemia tardia. Por exemplo, pesquisas demonstraram que adicionar proteína a uma refeição contendo carboidratos pode prolongar a resposta glicêmica por 3 a 5 horas, reduzindo o risco de quedas abruptas na glicemia.


Proteína como estratégia para prevenir hipoglicemia
A hipoglicemia é uma preocupação constante para pessoas com DM1, especialmente durante e após a prática de exercícios físicos. Durante o exercício, o consumo de glicose pelos músculos aumenta, o que pode levar a quedas acentuadas nos níveis de glicose no sangue. Em condições normais, o organismo compensa essa demanda aumentando a produção hepática de glicose e reduzindo a captação de glicose pelos tecidos. No entanto, em indivíduos com DM1, a administração exógena de insulina pode impedir essa resposta adaptativa, aumentando o risco de hipoglicemia.
Estudos sugerem que a ingestão de proteína antes do exercício pode ser uma estratégia eficaz para mitigar esse risco. Isso ocorre porque os aminoácidos derivados da proteína estimulam a secreção de glucagon, promovendo a produção de glicose pelo fígado e ajudando a manter os níveis glicêmicos durante o esforço físico. Ademais, pesquisas indicam que a suplementação de proteína antes do exercício reduz significativamente a incidência de hipoglicemia tanto durante quanto após a atividade física.


A proteína na prevenção da hipoglicemia noturna
Outro momento crítico para a hipoglicemia em indivíduos com DM1 é durante o período noturno. O consumo de proteína antes de dormir tem sido investigado como uma estratégia para reduzir a incidência de hipoglicemia noturna. Estudos demonstram que a ingestão de proteína, particularmente whey protein, pode aumentar os níveis de glucagon e prolongar a manutenção da glicemia durante a noite. Essa resposta reduz a necessidade de intervenções emergenciais com carboidratos durante o sono, contribuindo para um controle glicêmico mais estável.


Considerações finais
A ingestão de proteína pode ser uma ferramenta valiosa na redução do risco de hipoglicemia em indivíduos com DM1, especialmente em contextos como a prática de exercícios físicos e o período noturno. Embora mais pesquisas sejam necessárias para estabelecer diretrizes específicas, as evidências atuais sugerem que a adição de proteína à dieta pode ajudar a modular a resposta glicêmica, promovendo um controle glicêmico mais estável e reduzindo os episódios de hipoglicemia. Assim, indivíduos com DM1 podem considerar o ajuste de sua ingestão de proteína como parte de uma estratégia abrangente para o manejo da doença.

Referência:

Giang M. Dao, Greg M. Kowalski, Clinton R. Bruce, David N. O’Neal, Carmel E. Smart, Dessi P. Zaharieva, Declan T. Hennessy, Sam Zhao, Dale J. Morrison; The Glycemic Impact of Protein Ingestion in People With Type 1 Diabetes. Diabetes Care 20 March 2025; 48 (4): 509–518.