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Será que realmente devemos aposentar o IMC?

Escrito por
Luciano Albuquerque
Publicado em
5/5/2025

O uso do índice de massa corporal (IMC) não distingue entre os diferentes componentes do peso corporal, massa gorda e massa muscular ou óssea, levando alguns a questionar seu uso no diagnóstico e classificação da obesidade. Nesse contexto, uma comissão de especialistas reunida pela revista The Lancet recentemente elaborou uma nova proposta, recomendando que o excesso de adiposidade fosse confirmado pela medição direta da gordura corporal ou pelo menos 1 outro índice antropométrico, colocando o IMC apenas como elemento de triagem populacional ou estudos epidemiológicos, não para diagnóstico individual.
Um novo estudo publicado na revista JAMA trouxe novos dados sobre o tema. Os pesquisadores usaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (NHANES) de 2017-2018 para avaliar a concordância do IMC e do excesso de adiposidade em 2225 adultos (idade média de 39 anos) que foram submetidos a medições antropométricas e densitometria de corpo inteiro (DEXA). A obesidade medida pelo IMC ≥30 kg/m2. Critérios padronizados foram usados para definir excesso de adiposidade pelas medidas corporais (cintura ≥102 cm para homens e ≥ 88 cm em mulheres) e pela DEXA (gordura corporal ≥ 25% para homens e ≥35% para mulheres).
A taxa de obesidade foi de 39,7% com base no IMC e 39,1% com base no excesso de adiposidade. Entre os participantes com obesidade baseada no IMC, 98% também apresentaram excesso de adiposidade; em outras palavras, essencialmente os mesmos indivíduos foram considerados obesos por ambos os critérios. Os resultados foram semelhantes em todas as faixas etárias, raciais, étnicas e sexuais.
Os dados do estudo da JAMA vão contra a preocupação de que o IMC estaria superdiagnosticando a obesidade e reforçam a sua praticidade como uma ferramenta de triagem populacional. Sua alta correlação com excesso de adiposidade (98,4%) sugere que, para a maioria dos adultos, o IMC é suficiente para identificar obesidade sem necessidade de confirmação adicional. A proposta da The Lancet oferece uma abordagem mais personalizada, mas sua implementação enfrenta desafios, como a necessidade de treinamento para profissionais de saúde e acesso a ferramentas de medição de adiposidade. Além disso, a classificação de obesidade pré-clínica tem sido criticada por alguns especialistas, como a Sociedade Europeia para estudo da Obesidade (EASO), por potencialmente atrasar tratamentos em pacientes com riscos emergentes.
Concluindo, o IMC deve permanecer como a principal ferramenta na triagem de obesidade. No entanto, a incorporação de medidas de excesso de adiposidade tem clara importância para um diagnóstico mais preciso. A escolha entre essas abordagens depende do contexto, recursos disponíveis e necessidades do paciente. Futuras pesquisas devem explorar a viabilidade de implementar os critérios da The Lancet em sistemas de saúde diversos e avaliar seu impacto na gestão da obesidade.