Semaglutida na esteato-hepatite: publicado dados do ESSENCE

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A esteato-hepatite associada à disfunção metabólica (MASH) é uma condição caracterizada por acúmulo de gordura no fígado, que pode evoluir com inflamação e dano hepatocelular, frequentemente associada à obesidade, diabetes tipo 2 e risco cardiovascular elevado. A progressão dessa doença para fibrose hepática avançada aumenta substancialmente a mortalidade por causas hepáticas e gerais. Atualmente, há uma escassez de terapias direcionadas a esta condição, com o resmetirom sendo a única opção aprovada pelo FDA. Neste contexto, o agonista do receptor de GLP-1 semaglutida surge como potencial candidato terapêutico, com evidências prévias de eficácia em reduzir inflamação hepática em estudos de fase 2.

 

Neste contexto, foi publicado no The New England Journal of Medicine, o ESSENCE trial, um estudo de fase 3 que teve como objetivo avaliar a eficácia e a segurança da semaglutida administrada semanalmente em dose de 2,4 mg, em comparação ao placebo, em pacientes com MASH e fibrose hepática em estágio 2 ou 3. Trata-se de um ensaio clínico multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, cujos desfechos primários foram: resolução da esteato-hepatite sem piora da fibrose e redução da fibrose hepática sem agravamento da esteato-hepatite, após 72 semanas de tratamento.

 

Participaram do estudo 800 pacientes (534 no grupo semaglutida e 266 no grupo placebo). Os critérios de inclusão exigiam biópsia hepática recente confirmando MASH com escore de atividade ≥4 e fibrose estágio 2 ou 3.  As intervenções consistiram na administração subcutânea semanal de semaglutida ou placebo, com escalonamento da dose até atingir 2,4 mg. As avaliações histológicas foram realizadas por patologistas cegos às alocações. O acompanhamento foi de 72 semanas, com biópsia hepática ao final do período.

 

A semaglutida demonstrou superioridade em ambos os desfechos primários: 62,9% dos pacientes do grupo intervenção apresentaram resolução da esteato-hepatite sem piora da fibrose, contra 34,3% no grupo placebo (diferença estimada: 28,7 pontos percentuais; p<0,001); 36,8% tiveram redução da fibrose sem piora da esteato-hepatite versus 22,4% no grupo placebo (diferença: 14,4 pontos percentuais; p<0,001). Desfechos secundários também favoreceram a semaglutida, incluindo perda de peso significativa (−10,5% versus −2,0%) e melhora em marcadores não invasivos de fibrose hepática. Os eventos adversos mais comuns foram gastrointestinais, sem surgimento de novos sinais de alerta quanto à segurança.

 

Conclui-se que a semaglutida, administrada semanalmente em dose de 2,4 mg, promove melhora significativa nos parâmetros histológicos hepáticos em pacientes com MASH e fibrose moderada a avançada. Além dos benefícios hepáticos, o tratamento mostrou efeitos positivos em fatores cardiometabólicos, como perda de peso e controle glicêmico. Os achados sustentam a semaglutida como uma opção terapêutica promissora para MASH. Porém há ainda a necessidade de dados após seguimento de longo prazo para avaliação dos desfechos clínicos, como progressão para cirrose e sobrevida livre de eventos.