Semaglutida em pacientes com insuficiência cardíaca: já temos dados de segurança?

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A insuficiência cardíaca (IC) é mais comum em pacientes com sobrepeso ou obesidade do que na população em geral. Na maioria dos casos, trata-se de IC com fração de ejeção preservada (ICFEP), com poucas opções de tratamento até recentemente. Semaglutida, um agonista de GLP-1 agonista, foi estudado nessa população no estudo STEP-HFPEF, demonstrando melhorar a qualidade de vida e capacidade de exercício, em associação com a perda de peso. Entretanto, seu efeito em pacientes com fração de ejeção reduzida (ICFER) não foi bem estudado.

No estudo SUSTAIN 6, envolvendo pacientes com diabetes e alto risco cardiovascular, foi observado aumento numérico nos internamentos por ICFER, sem significância estatística e as diretrizes luso brasileiras recomendam cautela no uso dos aGLP1 em pacientes com ICFER.

No estudo SELECT, os pesquisadores avaliaram a semaglutida em 18.000 pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD) e sobrepeso ou obesidade, mas não diabetes. O estudo demonstrou redução de desfechos cardiovasculares ateroscleróticos em 20%, porém os dados sobre os pacientes com IC ainda não haviam sido apresentados.

Uma publicação recente na revista The Lancet apresentou os resultados de uma subanalise do estudo SELECT envolvendo 4286 pacientes com diagnostico de insuficiência cardíaca (53% com ICFEP, 31% com ICFER e o restante sem classificação). Durante o acompanhamento médio de 40 meses, os pacientes com IC no grupo semaglutida apresentaram redução significativa de 24% no desfecho composto de morte cardiovascular ou hospitalização por IC (HR, 0,76; diferença absoluta, ≈7% vs. ≈9%); a maior parte dessa diferença foi atribuída a redução de mortalidade. Os benefícios foram semelhantes em pacientes com ICFER ou ICFEP. Esse subgrupo de pacientes com diagnostico prévio de IC teve significativamente maior taxa de eventos quando comparados aos sem IC. Os pacientes com ICFER tiveram mais eventos que os com ICFER. Os benefícios também foram mantidos quando correlacionados a variáveis como idade, gênero, IMC, uso de diuréticos e classificação da NYHA.

A semaglutida não é indicada especificamente para tratamento da IC, e aparentemente não está em busca dessa indicação. No entanto, os resultados dos estudos citados apontam segurança e potencial utilidade no uso da semaglutida para pacientes com diabetes tipo 2 e/ou obesidade que também apresentem IC, independente da fração de ejeção.  Como ressalva: no geral, os pacientes com IC que foram inscritos no SELECT tinham doença menos avançada do que aqueles inscritos na maioria dos ensaios dedicados especificamente ao tratamento da IC.