Risco de câncer devido a realização de exames com radiação

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Risco de câncer devido a realização de exames com radiação

Inúmeros exames solicitados por cardiologistas expoem os seus pacientes à radiação ionizante - cateterismo, angiotomografia de coronárias, cintilografia miocárdica, entre outros. Cada vez mais surgem evidências claras que mostram que estes exames aumentam o risco de surgimento de neoplasias no futuro, devendo assim ser solicitados com bastante cautela.

Estudo publicado no Canadian Medical Assocation Journal desta semana retrata isto de forma precisa. Neste artigo acompanhou-se através de uma coorte 82.000 pacientes canadenses no período de 1996 a 2006. Todos haviam sido admitidos no hospital devido a infarto agudo do miocárdio e não possuíam câncer no início do seguimento. Todos os procedimentos com radiação ionizante eram registrados e posteriormente estimava-se quanto de radiação cada pcte havia recebido. Após várias análises em que se fez ajuste para outros fatores de risco para câncer, chegou-se a conclusão que para cada exposição de 10 mSv havia um aumento de 3% do risco de surgimento de câncer no período de 5 anos. Para se ter um exemplo, neste estudo o cateterismo diagnóstico gerava em média 7 mSv e a cintilografia miocárdica, 15,6 mSv.

Como tudo em medicina, devemos sempre pesar o risco x benefício de uma determinada intervenção antes de recomendá-la ao paciente. Obviamente, se o pcte tem uma indicação absoluta de cateterismo, por exemplo, ninguém vai deixar de solicitar o exame devido ao possível risco de uma neoplasia no futuro. Contudo, muitas vezes vemos na prática clínica exames serem solicitados sem grande respaldo na literatura. Os guidelines, por exemplo, não recomendam a realização de prova não invasiva de rotina após implante de stent no pcte que encontra-se assintomático. Contudo, não é incomum vermos solicitações de cintilografia miocárdica 6 meses após implante de stent em paciente sem sintomas, para detectar uma possível reestenose do stent. O que deve ser lembrado nestes casos é que além do benefício do exame nesta situação específica não ter sido demonstrado por estudos ainda há o potencial malefício da radiação ionizante a médio/longo prazo. O mesmo serve para as inúmeras angiotomografias que vem sendo solicitadas no contexto de prevenção primária - outra indicação não apoiada pelos consensos europeus e americanos.

Referência: Eisenberg, Afilalo J, Lawler P, et al. Cancer risk related to low-dose ionizing radiation from cardiac imaging in patients after acute myocardial infarction. CMAJ 2011.