Retrospectiva 2024: Os Principais Artigos na Endocrinologia

A tradicional revista New England Journal of Medicine publica anualmente uma edição especial com os principais artigos publicados durante o ano. Na edição de 2024, o destaque fica por conta de avanços significativos no campo da endocrinologia, com novos estudos redefinindo estratégias terapêuticas para condições crônicas e desafiadoras, como doenças hepáticas, nefropatia diabética e insuficiência cardíaca. Agentes já conhecidos apresentaram novos dados positivos com impacto significativo em comorbidades para as quais se dispunha de poucas opções  efetivas. Nessa retrospectiva, destacamos os principais artigos que impactaram a prática clínica e que inclusive já foram apresentados por aqui.

Resmetiron na Esteatohepatite com fibrose hepática.

O resmetiron, um agonista seletivo do receptor beta do hormônio tireoidiano, mostrou resultados promissores no tratamento da esteato-hepatite não alcoólica (NASH). O estudo MAESTRO – NASH demonstrou que o resmetiron reduziu a inflamação hepática e a fibrose em pacientes com NASH moderada a grave, com um perfil de segurança favorável.

Impacto Clínico: Em pacientes com evidência de fibrose hepática e risco elevado de progressão para cirrose, o resmetiron trouxe benefícios efetivos. Esses resultados levaram a primeira aprovação de um medicamento pelo FDA para tratamento de NASH.

Semaglutida na Nefropatia Diabética

A semaglutida, um agonista do receptor GLP-1, continua a se destacar por seus benefícios além do controle glicêmico. O estudo FLOW avaliou seus efeitos em pacientes com nefropatia diabética avançada. Os resultados mostraram redução significativa na progressão da doença renal, tanto em albuminúria quanto em redução da queda da taxa de filtração glomerular, além de redução de eventos cardiovasculares, nessa população sabidamente de alto risco.

Impacto Clínico: Este estudo solidifica a semaglutida como uma escolha preferencial para pacientes com diabetes tipo 2 e risco de complicações renais, estabelecendo-a como um pilar na proteção da função renal, junto a agentes como os iECA/BRA, iSGLT2 e a finerenona.

Tirzepatida na Doença Hepática Metabólica

A tirzepatida, um agonista duplo dos receptores GIP e GLP-1, demonstrou potencial no manejo da doença hepática esteatótica em pacientes com sobrepeso ou obesidade. O estudo fase 2 SINERGY-NASH, envolveu 190 pessoas com esteato-hepatite associada à disfunção metabólica (MASH) e fibrose moderada ou grave, comprovada por biópsia. A tirzepatida levou a resolução da esteatose sem piora da fibrose em ate 62% dos pacientes tratados, com superioridade evidente em relação ao placebo. O estudo entretanto não proporcionou poder estatístico para avaliar o efeito do Tirzepatide na fibrose, além de não ter avaliado desfechos hepáticos adversos.

Impacto Clínico: Este achado destaca o benefício duplo da tirzepatida, tanto no controle metabólico quanto na proteção hepática, tornando-a uma candidata promissora no tratamento de doenças metabólicas complexas. Estudos fase 3 em andamento podem demonstrar redução de fibrose e dos desfechos hepáticos.

Finerenona na Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada (ICFEP)

A finerenona, um antagonista seletivo do receptor de mineralocorticoides, apresentou resultados encorajadores em pacientes com ICFEP e diabetes tipo 2. O estudo FINEARTS envolveu 6000 pacientes com ICFEP sintomáticos e lovou a redução significativa dos eventos de piora de insuficiência cardíaca e morte por causas cardiovasculares. A taxa de eventos de agravamento de insuficiência cardíaca – avaliada isoladamente como desfecho secundário - também foi significativamente menor com finerenona do que com placebo. Já a porcentagem de pacientes que morreram de causas cardiovasculares não diferiu substancialmente entre os grupos.

Impacto Clínico: A finerenona emerge como uma nova opção terapêutica para a ICFEP uma condição que até a pouco tempo carecia de terapia específica. Apesar da maior taxa de hipercalemia, fator limitante no uso de bloqueadores mineralocorticoides, os ajustes pré-estabelecidos foram suficientes para garantir a continuidade do tratamento na grande maioria dos casos.

Tirzepatida na ICFEP

Outro destaque do ano foi o impacto da tirzepatida em pacientes com ICFEP. Uma análise amterior publicada no Circulation já tinha mostrado que a terapia não apenas melhorou a função cardíaca, mas também reduziu a adiposidade visceral e os marcadores de inflamação sistêmica. Agora no estudo SUMMIT, envolvendo 731 pacientes com obesidade e ICFEP, a tirzepatida levou a um menor risco da combinação de morte por causas cardiovasculares ou agravamento da insuficiência cardíaca. A tirzepatida também levou a maior redução na pontuação do KCCQ-CSS, na PCR e no peso corporal (-13,9%) além de melhora no teste de caminhada.

Impacto Clínico: Este estudo reforça o papel da tirzepatida como uma medicação multifuncional, beneficiando pacientes com múltiplas comorbidades cardiovasculares e metabólicas.

Conclusão

A publicação dos destaques de 2024 reforçam a convergência entre endocrinologia e outras especialidades, como cardiologia e hepatologia, considerando a grande interrelaçao entre a síndrome metabólica e diversas comorbidades. Medicamentos como resmetiron, semaglutida, tirzepatida e finerenona estão transformando o manejo de doenças crônicas, oferecendo novas esperanças para pacientes e profissionais de saúde. Com a expansão de indicações, vemos o surgimento de terapias multifuncionais e personalizadas, tornando o futuro da endocrinologia ainda mais promissor.

Que venha 2025, com ainda mais inovações!

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