Qual é o melhor antidiabético oral para pacientes com esteatose hepática?

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Há uma relação bidirecional entre o diabetes mellitus tipo 2 e a doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD). De um lado temos uma prevalência de 55% de MASLD em pacientes portadores de DM2. De outro, sabemos que a o diabetes aumenta o risco de complicações da doença esteatótica, incluindo esteatohepatite, cirrose, hepatocarcinoma e doença cardiovascular. Desse modo, é preciso considerar na escolha dos antidiabéticos orais (ADOs), um possível benefício na progressão da MASLD.

Neste mês de fevereiro, foi publicado no JAMA Internal Medicine um estudo de coorte retrospectivo que comparou a regressão da DHGNA e outros parâmetros relacionados ao fígado associados a vários ADOs em pacientes com DM2 e MASLD, usando dados de um banco nacional de informações em saúde da Coreia.

Foram incluídos participantes que estivessem em uso de inibidores de SGLT2, tiazolidinedionas, inibidores de DPP-4 ou sulfonilureias recém-iniciados como medicamentos suplementares à metformina, e adesão consistente ao regime prescrito por 80% ou mais de 90 dias consecutivos. Os principais resultados a serem avaliados foram a regressão da MASLD e resultado composto relacionado ao fígado (hospitalização relacionada ao fígado, mortalidade relacionada ao fígado, transplante hepático e carcinoma hepatocelular).

Um total de 80.178 pessoas foram acompanhadas ao longo do estudo, sendo que 4102 apresentaram regressão da MASLD. A incidência de regressão da MASLD foi maior para o inibidor de SGLT2 (ASHR, 1,99 [IC 95%, 1,75-2,27]), tiazolidinediona (ASHR, 1,70 [IC 95%, 1,41-2,05]) e inibidor de DPP-4 (ASHR, 1,45 [IC 95%, 1,31-1,59]) quando comparados com o grupo de referência de sulfonilureia. Os inibidores de SGLT2 produziram os resultados mais favoráveis entre as 4 classes de ADO, mostrando taxas de regressão deMASLD mais altas em comparações pareadas: inibidores de SGLT2 vs tiazolidinedionas (ASHR, 1,40 [IC 95%, 1,12-1,75]) e inibidores de SGLT2 vs inibidores de DPP-4 (ASHR , 1,45 [IC 95%, 1,30-1,62]).

Mas, o que poderia explicar os benefícios dos inibidores do SGLT2?

Bem, além induzirem perda de peso e melhor controle glicêmico, as gliflozinas redistribuem depósitos de gordura visceral, subcutânea e ectópica (por exemplo, gordura hepática). Também reduzem os diacilgliceróis hepáticos associados à resistência insulínica. Acredita-se atuem ainda aumentando os níveis de adiponectina, diminuindo os níveis de leptina e protegendo contra a lipotoxicidade. Tais drogas melhoram a MASLD independentemente da perda de peso.

Obviamente, por tratar-se de uma coorte, com suas conhecidas limitações, os resultados apresentados deverão ser apresentados com cautela. No entanto, essa não é a primeira vez em que vemos resultados animadores do uso de iSGLT2 em pacientes com MASLD. Por fim, já que estamos analisando as drogas de forma comparativa, vale lembrar que uma droga com efeitos interessantes para a MASLD, a semaglutida oral, não foi avaliada na coorte em questão.