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Qual a ligação entre a insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada e a fibrilação atrial?
Escrito por
Jefferson Vieira
Publicado em
29/11/2016
A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) e a fibrilação atrial (FA) são condições que frequentemente coexistem, apresentando características clínicas e epidemiológicas semelhantes. Ambas compartilham de fatores de risco em comum como envelhecimento, diabete melito, obesidade, hipertensão arterial e apneia do sono e estão associadas com inflamação sistêmica, rigidez vascular e disfunção diastólica.
A FA é, ao mesmo tempo, uma condição preditora e uma complicação da ICFEP. Os mecanismos mais aceitos envolvem remodelamento e fibrose atrial e ativação neuro-hormonal. O diagnóstico da ICFEP na presença de FA é desafiador pois os sintomas se sobrepõem e as alterações ecocardiográficas e de peptídeos natriuréticos na FA podem confundir o diagnóstico de ICFEP.
O prognóstico da associação de ICFEP com FA é pior do que de cada condição isoladamente, com maior incidência de acidente vascular cerebral e hospitalização por descompensação da IC.
Até o momento não existem tratamentos específicos para ICFEP e FA. O bloqueio neuro-hormonal na ICFEP não tem o mesmo efeito de redução de mortalidade observado na ICFER. A anticoagulação está indicada para pacientes com FA que apresentem fatores de risco para eventos tromboembólicos. Não existe nenhum estudo randomizado exclusivo sobre anticoagulação da FA na ICFEP, mas a evidência disponível sugere que a eficácia seja similar à ICFER. O tratamento disponível deve ser direcionado ao alívio sintomático e controle de comorbidades, como controle pressórico e glicêmico, diureticoterapia na congestão, perda ponderal e atividade física. A ablação da FA na ICFEP parece melhorar a função diastólica nos pacientes que consigam manter o ritmo sinusal. No entanto, o controle de ritmo nesses indivíduos pode ser difícil pois são geralmente idosos e com múltiplas comorbidades que dificultam o sucesso da reversão. Em idosos muito sintomáticos, é razoável adotar a estratégia de controle da frequência para otimizar o tempo de enchimento ventricular. Em estudo de fase II, a droga LCZ696 (sacubitril/valsartan) foi capaz de reduzir as cavidades atriais de pacientes com ICFEP. O papel da terapia de ressincronização miocárdica na ICFEP em pacientes com FA ainda precisa ser melhor esclarecido.