Pré-eclâmpsia aumenta risco de hipertensão no futuro?

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A pré- eclâmpsia é caracterizada pela elevação de PA associado a proteinúria ou disfunção orgânica após 20 semanas de gestação. Afeta 3 % a 5 % das gestações em todo mundo e é responsável não só pelo elevado risco de morbimortalidade para mãe e criança, mas também por elevação de risco cardiovascular da mulher no decorrer da vida. Alguns estudo demonstraram que mulheres que tiveram pré-eclâmpsia tinham mais chance de serem hipertensas após a gestação.O mecanismo exato dessa relação ainda é incerto, mas parece ser multifatorial. Acaba de ser publicado no Hypertension, um estudo que teve como objetivo, determinar a prevalência de HAS e padrões da MAPA 24 horas em mulheres com 1 ano após pré-eclâmpsia severa. No total de 200 mulheres avaliadas, 41,5% tinham alguma forma de HAS, 1 ano após o parto. 14,5% tinham hipertensão sustentada. A MAPA foi essencial pois diagnosticou HAS mascarada em 17,5% e hipertensão do jaleco branco em 9,5%. A HAS mascarada está associada com o aumento do risco de desenvolver HAS sustentada, eventos e mortalidade cardiovasculares, independente da PA de consultório. Indivíduos portadores de HA do jaleco branco, também apresentam risco aumentado de HAS sustentada e dano de órgão alvo, quando comparados a normotensos. Além disso, o trabalho mostrou que 75% das mulheres com diagnóstico de HAS antes da MAPA e da medida no consultório, ou não estavam com tratamento anti-hipertensivo otimizado, ou não eram aderentes ao tratamento.

Segundo as diretrizes, é recomendado a avaliação de PA em pacientes com história de pré-eclâmpsia, entretanto, recomendações específicas, métodos e tempo para se realizar essa avaliação não são claros. Esse estudo mostra a importância da MAPA, paralelamente a PA de consultório, na avaliação dessa população, já que sem esse exame complementar, não seria possível o diagnóstico de HAS mascarada e HA do avental branco.

Impressão do editor (Eduardo Lapa) - estudo bastante interessante. Normalmente o cardiologista recebe em seu consultório pacientes com histórico de pré-eclâmpsia apenas quando a presão arterial do consultório persiste elevada o acompanhamento com o obstetra. Contudo, como mostrado pelo estudo, uma boa parte dos diagnósticos seria perdido (caso de HAS mascarada) ou dado de forma errada (HA do jaleco branco) neste cenário. O estudo nos leva a considerar a realização de MAPA de forma rotineira no seguimento de pacientes com histórico de pré-eclâmpsia. Obstetras também precisam ficar atentos a estes achados.

Cada vez mais vê-se que as medidas de pressão arterial no consultório estão longe de representar o padrão-ouro para diagnóstico ou exclusão de hipertensão. A diretriz britânica de HAS há anos já colocou o MAPA como a forma de diagnosticar HAS, colocando medidas de PA no consultório apenas como método de triagem. A realidade lá é outra. Quem imagina dar diagnóstico de HAS no SUS pedindo MAPA? Completamente inviável. Contudo, no ambiente de medicina privada o acesso ao exame é amplo e provavelmente deveríamos usar mais o método.

Referência: Blood Pressure Profile 1 Year After Severe Preeclampsia. Laura Benschop, Johannes J. Duvekot, Jorie Versmissen, Valeska van Broekhoven, Eric A.P. Steegers, Jeanine E. Roeters van Lennep, Hypertension, March 2018