Qual a arritmia mostrada pelo ECG?

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Qual a arritmia mostrada pelo ECG?

Paciente do sexo feminino, 37 anos, sem comorbidades prévias. Recentemente passou em um pronto socorro por queixa de palpitações, onde foi realizado o seguinte ECG:

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Resposta:

Resposta: Chama a atenção um padrão de bigeminismo: um batimento sinusal e outro batimento com QRS largo, correspondente a uma extrassístole ventricular. Note que os batimentos prematuros apresentam V1 negativo e eixo inferior, o que sugere origem na via de saída do ventrículo direito.

A paciente veio ao seu consultório para tirar dúvidas. Disse estar preocupada e com medo, pois lhe disseram que tem uma arritmia muito grave.

O que você faria a seguir?

Então vamos lá… Antes de esclarecer os questionamentos que foram feitos, deve-se investigar a presença de cardiopatia estrutural e disfunção ventricular.

As EVs são consideradas idiopáticas quando se observa coração estruturalmente normal e morfologia QRS consistente com o local de origem de locais típicos de arritmias ventriculares idiopáticas - via de saída de VD e VE.

O ecocardiograma deve ser solicitado a todos para avaliar a função ventricular e a presença de possível cardiopatia estrutural.

O Holter de 24 horas permite avaliar a carga de ectopias ventriculares ao longo do dia e sua correlação com os sintomas. Sabe-se que a presença de TV não sustentada ou EVs frequentes pode precipitar uma forma reversível de cardiomiopatia dilatada (taquicardiomiopatia) quando existe uma carga > 13% a 24% (esse valor varia na literatura) na monitorização de 24 horas.

O teste ergométrico também é um exame complementar importante pois nos permite avaliar a resposta das EVs às catecolaminas. Habitualmente, as EVs idiopáticas são suprimidas no pico do esforço.

Em relação aos sintomas, quando presentes, costumam ser leves em muitos pacientes, mas podem ser incapacitantes em alguns indivíduos. A maioria dos sintomáticos apresenta palpitações, 50% desenvolve tontura e uma minoria apresenta síncope. Os sintomas podem ser causados pelas EVs propriamente ditas ou pela pausa compensatória subsequente.

Vale ressaltar que alguns pacientes podem apresentar sintomas inespecíficos, como cansaço ou intolerância aos esforços. Devemos estar sempre atentos e valorizar esses sintomas!

As EVs idiopáticas possuem curso clínico benigno e bom prognóstico. Além disso, pode ocorrer remissão espontânea em 5% a 20% dos casos e a ocorrência de morte súbita cardíaca é rara.

E em relação ao tratamento? Quando e como tratar esses pacientes?

De uma forma geral, tratamos aqueles pacientes sintomáticos e aqueles que possuem risco ou já apresentam disfunção ventricular por provável taquicardiomiopatia.

O tratamento farmacológico de primeira linha inclui betabloqueadores e bloqueadores de cálcio. Antiarrítmicos classe I (Sotalol) ou classe III (Amiodarona) são efetivos na redução da carga de EVs, porém não são primeira linha pelos potenciais efeitos colaterais.

A associação de magnésio oral à terapia farmacológica pode contribuir para redução da carga de EVs e controle de sintomas.

Por fim, a ablação por cateter é o tratamento de escolha para pacientes muito sintomáticos nos quais a terapia medicamentosa de longo prazo não é bem-sucedida, não é tolerada ou não é desejada.

Fonte:

- Clinical arrhythmology and electrophysiology: a companion to Braunwald’s heart disease / Ziad F. Issa, John M. Miller, Douglas P. Zipes.— 2nd ed.

- Tratado de arritmias cardíacas: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Hachul, D.T, Kuniyoshi R.R, Darrieux, F.C.C, Brito Júnior, H.L, Jorge, J.C.M, Teixeira, R.A. 1 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019.