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Psoríase e risco cardiovascular: o que você precisa saber?
Escrito por
Dirceu Melo
Publicado em
14/4/2021
Em publicação recente do JACC, autores da New York University trazem uma interessante revisão sobre risco cardiovascular em portadores de psoríase. A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele que afeta 2-3% da população americana. Pacientes com psoríase frequentemente apresentam tradicionais fatores de risco cardiovascular como hipertensão, diabetes, obesidade, sedentarismo, tabagismo, dislipidemia e depressão. No entanto, estudos recentes têm demonstrado um aumento do risco cardiovascular nessa população, de forma independente dos fatores de risco tradicionais. De fato, os números chamam a atenção:
1) psoríase aumenta em 50% a incidência de doenças cardiovasculares;
2) há correlação com a gravidade da doença (formas graves de psoríase aumentam em 3x o risco de IAM, e em 60% e 40% o risco de AVC e morte cardiovascular, respectivamente);
3) a cronicidade da psoríase se correlaciona com inflamação vascular e o risco cardiovascular aumenta 1%/ano nessa população;
4) pacientes com psoríase têm maior escore de cálcio, comparável a pacientes diabéticos sem psoríase.
O mecanismo da lesão cardiovascular associada à psoríase ainda é objeto de estudo, mas parece ser multifatorial e depende da interação entre fatores de risco cardiovasculares tradicionais, genética e lesão endotelial inflamatória. A lesão vascular é mediada por cascata pró-inflamatória (IL-17, IL-22, IL-6, TNF-α) além de ativação plaquetária e produção de LDL e HDL oxidadas, resultando em aterosclerose e estado pró-trombótico. Essas lesões são mais frequentes em pacientes com doença extensa, longo tempo de evolução e uso de imunobiológicos. Com base nesses achados, a Sociedade Americana de Dermatologia recomenda que em pacientes com > 10% de área da superfície corpórea atingida ou uso de imunobiológicos o risco cardiovascular em 10 anos seja multiplicado por 1,5. A Sociedade Americana de Cardiologia, por sua vez, considera a doença como um fator agravante na estratificação de risco cardiovascular.
A prevenção das doenças cardiovasculares em pacientes com psoríase não foge à regra: hábitos saudáveis e controle de fatores de risco com medidas farmacológicas quando apropriado. A grande questão é: será que o tratamento para controle da inflamação sistêmica na psoríase reduz o risco cardiovascular? Até o momento, não temos essa evidência. Embora alguns estudos clínicos tenham demonstrado melhora da inflamação vascular após terapia com imunobiológicos, ainda faltam estudos randomizados com desfechos duros (morte, iam, avc) para responder com mais clareza a essa questão.
Referência: Garshick et al. Cardiovascular Risk in Patients With Psoriasis. J Am Coll Cardiol 2021;77:1670–80)