Principais pontos do Consenso Brasileiro sobre Lipedema

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Referência imagem: Zaher Jandali; Lucian P. Jiga Corrado Campisi Editors. Lipedema: A Practical Guidebook

O lipedema é uma doença crônica e sistêmica, cuja prevalência no Brasil é de 12,3% da população feminina adulta. Caracteriza-se por uma expansão desproporcional do tecido adiposo subcutâneo das extremidades em relação ao tronco, normalmente poupando mãos e pés. Combinações poligênicas de distúrbios hormonais, microvasculares e linfáticos podem estar parcialmente relacionadas ao desenvolvimento dessa condição. O lipedema afeta principalmente as mulheres biológicas, enquanto a ocorrência em homens é rara. Mudanças hormonais, como durante a puberdade, gravidez e menopausa, podem desencadear ou exacerbar os sintomas.


O lipedema não é causado pela obesidade, nem a obesidade é causada pelo lipedema; são condições distintas com seus próprios processos fisiopatológicos. Contudo, a obesidade pode agravar os sintomas do lipedema, e um aumento de peso significativo pode atuar como um gatilho. Mais estudos são necessários para entender completamente a relação entre as duas condições.


Neste mês de fevereiro, foi publicado o Consenso Brasileiro de Lipedema da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV). A seguir, resumiremos alguns pontos de consenso desse documento, divindo em dois blocos: diagnóstico e tratamento.


##Reconhecimento/ diagnóstico


O diagnóstico clínico de lipedema depende do histórico médico do paciente, exame físico e exclusão de diagnóstico diferencial.
Algumas informações da anamnese e exame físico, são de particular utilidade na identificação de casos de lipedema:


• O lipedema normalmente poupa mãos e pés;
• A sensibilidade dolorosa à pressão e/ ou ao alongamento é observada, por exemplo, pela palpação e é relatada principalmente pelos pacientes como dor;
• Pacientes frequentemente relatam inchaço ou sensação de peso nas áreas afetadas;
• O edema de depressão (sinal de Godet ou cacifo) geralmente não está presente no tecido afetado pelo lipedema;
• A elevação da extremidade afetada pelo lipedema geralmente não resulta em uma redução do volume;
• Pacientes com lipedema geralmente experimentam fácil formação de hematomas;
• Durante exame clínico de rotina, é recomendável a utilização de medidas antropométricas mais específicas, como a proporção cintura-altura e a relação cintura-quadril, para uma avaliação mais precisa. Métodos adicionais, como densitometria corporal total ou bioimpedância, podem ser considerados para fornecer uma compreensão mais detalhada da composição corporal, em vez de depender apenas do índice de massa corporal, que pode não refletir adequadamente as características particulares do lipedema.

## Tratamento


No que se refere ao tratamento, o cuidado multidisciplinar envolvendo médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e profissionais de saúde mental é essencial para o gerenciamento abrangente. As especialidades médicas que devem atuar no lipedema são: Cirurgia Vascular, Endocrinologia, Ortopedia, Cirurgia Plástica, Psiquiatria, Ginecologia, entre outras. Veja abaixo outras observações do consenso sobre o manejo do lipedema:


• A dor do lipedema e a sensibilidade física nas áreas afetadas podem ser reduzidas pela bandagem, compressão, terapia física descongestionante complexa, mudanças dietéticas, exercícios de baixo impacto e lipoaspiração, com tamanhos e durações de efeito variáveis;
• O tratamento deve incluir mudanças nutricionais, além exercício de baixo impacto para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida;
• Considerando que a obesidade grave piora as manifestações do lipedema, a gestão da doença deve incluir a normalização do peso, com foco na proporção cintura-altura;
• Exercícios de baixo impacto, como atividade física na água, caminhada e ioga, podem ajudar a manter a mobilidade e apoiar o controle de peso;
• Nos casos em que o lipedema coincide com obesidade e doença metabólica, é aconselhável priorizar a cirurgia bariátrica antes de considerar a lipoaspiração;
• A decisão para um procedimento cirúrgico no tratamento do lipedema não deve ser tomada precipitadamente. Ela não deve ser considerada antes de 1 ano de tratamento clínico, sempre priorizando a compreensão da paciente sobre sua condição. No entanto, dependendo do grau da doença e da resposta do paciente ao tratamento clínico, a cirurgia pode ser benéfica em estágios avançados para melhorar a mobilidade do paciente;
• Atividades de fortalecimento muscular, especialmente direcionadas à musculatura posterior da coxa, têm demonstrado ser benéficas para mulheres com lipedema, contribuindo para melhorar a qualidade de vida e o manejo dos sintomas dessa condição.

Referências:

Amato et al. J Vasc Bras. 2025;24:e20230183. https://doi.org/10.1590/1677-5449.202301831

Zaher Jandali; Lucian P. Jiga Corrado Campisi Editors. Lipedema: A Practical Guidebook