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Primeiro posicionamento da AHA sobre doença hepática gordurosa não alcoólica e risco cardiovascular
Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
26/4/2022
A Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) é um fator de risco independente e subestimado para doença cardiovascular aterosclerótica. Tal condição metabólica está associada a adiposidade visceral, dislipidemia aterogênica e resistência insulínica com ou sem hiperglicemia.
Embora 10% a 25% dos casos de pacientes com DHGNA possam ser complicados por esteato-hepatite não alcoólica (NASH), que pode levar à cirrose, carcinoma hepatocelular e insuficiência hepática, a principal causa de mortalidade em pacientes com DHGNA é a doença cardiovascular (DCV). Portanto, a identificação da DHGNA é um aspecto importante da prevenção e tratamento da DCV que requer maior conscientização entre nós, médicos. Pensando nisso, a American Heart Association publicou o seu primeiro posicionamento sobre o tema. Veja a seguir alguns dos pontos abordados pelo documento:
- A ultrassonografia hepática de rotina é útil se demonstrar esteatose hepática, mas não pode quantificar a extensão da esteatose, nem descartá-la, devido à insensibilidade da técnica.
- As medições de AST e ALT não são úteis para o diagnóstico de DHGNA e NASH devido à baixa sensibilidade e especificidade. A biópsia hepática é o padrão ouro para o diagnóstico, mas o procedimento é caro e tem risco aumentado de complicações. Opções diagnósticas não invasivas, como elastografia transitória estão disponíveis, mas são subutilizadas.
- O tratamento da DHGNA possui três metas: preservar a função hepática e prevenir a progressão para doença hepática terminal e carcinoma hepatocelular; prevenir e tratar complicações metabólicas como diabetes, dislipidemia e síndrome metabólica; prevenir complicações cardiovasculares.
- A base do tratamento para DHGNA é a modificação do estilo de vida, incluindo exercícios regulares e hábitos alimentares saudáveis. Sabe-se que a quantidade de gordura no fígado é reduzida drasticamente após uma redução de 10% no peso corporal e melhora pode ser observada com uma redução de apenas 5% do mesmo.
- Enquanto o consumo moderado de álcool pode reduzir o risco de NASH e DCV na população geral, estudos indicam que qualquer quantidade consumida de álcool em pacientes com NASH estabelecida aumenta o risco de progressão da doença e, portanto, deve ser completamente evitado.
- A pioglitazona tem um efeito benéfico na NASH em pessoas com e sem diabetes, embora pareça ter um efeito mais robusto em pessoas com diabetes.
- Os benefícios da liraglutida foram avaliados no ensaio LEAN (Liraglutide Safety and Efficacy in Patients With Non-Alcoholic Steatohepatite), no qual 52 pacientes com NASH comprovada por biópsia foram randomizados para tratamento com liraglutida 1,8 mg SC diariamente ou placebo por 48 semanas. A liraglutida resolveu significativamente a NASH em cerca de um terço dos pacientes (39% versus 9%; p=0,019) e reduziu a progressão de fibrose (9% versus 36%; p=0,04). No entanto, estudos confirmatórios com liraglutida são necessários, assim como determinar até que ponto a melhora na NASH pode ser atribuível a mecanismos além da perda de peso.
- A terapia com vitamina E (800 UI) pode ser considerada para alguns pacientes com NASH comprovada por biópsia que não são diabéticos e que ainda não evoluíram para cirrose. No entanto, os resultados de vários ensaios clínicos randomizados controlados por placebo mostraram que a suplementação de vitamina E não previne eventos cardiovasculares e pode aumentar o risco de insuficiência cardíaca.
Opinião do autor: o inédito posicionamento da AHA sobre Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (ou Doença Hepática Gordurosa Metabólica, como temos preferido atualmente) deixa claro o reconhecimento da doença como importante fator de risco cardiovascular e nos dá esperança de que médicos das mais diversas especialidades aprendam a abordar esta condição de forma adequada, reduzindo assim suas complicações hepáticas e cardiovasculares.