Compartilhe
Por que muitos médicos ainda não prescrevem os novos antidiabéticos?
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
14/7/2021
Complicações cardiovasculares e renais são importantes causas de morbimortalidade na população diabética. Inibidores do co-transportador de sódio e glicose de sódio (iSGLT2) e agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon (GLP1RA), também chamados de novos antidiabéticos, demonstraram redução significativa desses eventos em seus estudos pivotais.
As evidências estão disponíveis desde 2015 com a publicação do estudo EMPA REG (empagliflozina), seguido pelo LEADER (liraglutida) no ano seguinte. Os dois estudos, envolvendo predominantemente pacientes com doença cardiovascular prévia, demonstraram redução de desfechos cardiovasculares, com destaque para a redução de mortalidade cardiovascular e por todas as causas, achados independentes do controle glicêmico.
Tais achados vêm provocando mudanças sucessivas nos guidelines, determinando uso preferencial desses agentes em pacientes diabéticos em prevenção secundária ou em condição de maior risco. Estudos posteriores vêm demonstrando redução de eventos relacionados a IC e a redução de progressão de doença renal diabética com o uso de iSGLT2, independentemente da presença de diabetes, ampliando a indicação dessa classe.
Apesar de todas as evidências e guidelines, os agentes seguem subutilizados na prática clínica, com menos de 10% dos pacientes que apresentam indicação tendo a efetiva prescrição. Os cardiologistas acabam assumindo parte da responsabilidade. Até 30% dos diabéticos têm doença cardiovascular clinicamente significativa. Registros apontam que 70% destes pacientes são atendidos predominantemente por cardiologistas, que acabam sendo responsáveis por apenas 6% das prescrições de iSGLT2 e 1,4% de GLP1RA.
A aprovação inicial dos iSGLT2 e GLP-1RA como drogas redutoras de glicose (novos antidiabéticos) pode ter atrapalhado a incorporação inicial desses agentes pelos cardiologistas, que tendem a considerar o controle glicêmico e as metas de HbA1c como fora de seu escopo terapêutico. Em vez disso, tais agentes podem ser encarados como redutores de risco cardiorrenal com um benefício adicional de reduzir a glicose, reforçando seu uso dentro da competência da especialidade. Todos os médicos que cuidam de pacientes com DM2 devem se sentir confortáveis com a prescrição desses agentes. Educação médica continuada tem papel central nesse contexto. Siga nossas dicas!