ECG: como diferenciar o supra do infarto do supra da pericardite?

Lá estou eu na emergência quando chega um paciente jovem com dor torácica aguda e supra de ST no ECG. E agora? Se eu ficar em dúvida entre infarto e pericardite, o que faço? Posso trombolisar o paciente "para garantir"? Não, não posso! Trombólise em um paciente com pericardite aguda além de não trazer benefício algum pode ainda causar complicações graves. Tenho que saber diferenciar as duas situações. Para isto, existem algumas dicas:

1. distribuição do supra →

• IAM → supra de ST localizado no território da artéria acometida
• na pericardite → supra difuso no ECG

2. Presença de imagem em espelho →

• muito comum no IAM (olhar para derivações opostas e avaliar presença de supra e infra)
• Na pericardite não temos imagem em espelho

3. Tamanho do supra

• IAM - comumente o supra costuma ter ≥ 5mm de dimensão
• na pericardite costuma ser menor

4. Onda Q patológica →

• geralmente presente no infarto com supra
• ausente na pericardite

5. Concavidade do supra de ST

• IAM → inicialmente a concavidade pode ser para cima e na medida que as horas vão passando a concavidade fica para baixo (triste)
• pericardite -> Supra ST com concavidade para cima (feliz)

6. infra de segmento PR →

• Pericardite → comum e em muitas derivações
• IAM com supra → incomum

7. inversão de onda T →

• IAM com supra → acontece junto com o supra
• pericardite → em geral a onda T so inverte dps que o supra passou

Com tudo isso dito, podemos concluir que: se você está no PS e chega um paciente com vários fatores de risco cardiovascular e você não tem um ECG muito clássico de pericardite, e uma clínica inespecífica, sempre fique com uma pulga atrás da orelha para não deixar um IAM com supra passar! A síndrome coronariana aguda com supra de ST é a principal causa de morte no mundo e muito mais comum que a pericardite aguda, portanto é sempre importante descartar o IAM antes. Porém não esquecer de sempre ser crítico frente a um supra do segmento ST e não sair trombolisando qualquer um! A mensagem final que fica é: não trombolisar se você não está seguro!