Ômega 3 Pode Aumentar o Risco de Fibrilação Atrial?

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Ômega 3 Pode Aumentar o Risco de Fibrilação Atrial?

O médico que faz consultório certamente já foi questionado pelo seu paciente sobre o uso de ômega 3. Ao ligar a TV nos deparamos com inúmeras propagandas exaltando os benefícios da reposição deste suplemento. Para que vocês tenham uma ideia, somente em 2019, o mercado mundial de ômega 3 movimentou cerca 4,1 bilhões de dólares. Frente a estas cifras, fica fácil entender a pressão do mercado para o consumo desta substância. Mas, ômega 3 pode elevar o risco de fibrilação atrial?

Nos últimos 2 anos, 4 estudos randomizados mostraram dados sobre o consumo de ômega 3 e o risco de fibrilação atrial (FA):

  1. O STRENGTH trial randomizou 13.078 pacientes de alto risco cardiovascular, que receberam 4,0 g/dia de ômega 3 (combinação do ácido eicosapentaenoico - EPA e do ácido docosahexaenoico - DHA) vs óleo de milho para o grupo placebo. Além de não haver proteção cardiovascular, houve aumento de FA no grupo intervenção (2,2% vs 1,3%; HR 1,69; 95% IC, 1,29-2,21; P < 0,001).
  2. O Reduce-IT trial randomizou 8.179 participantes a receberem altas doses de ômega 3 (4,0 g/dia EPA purificado) vs placebo. Houve redução relativa de 25% no desfecho cardiovascular primário, mas com aumento de FA no grupo intervenção (5,3% vs 3,9%; P = 0,003). É importante destacar que esses participantes receberam uma formulação de ômega 3 purificada, que não costuma ser encontrada no Brasil.
  3. O OMEMI trial randomizou 1.027 pacientes idosos com infarto prévio a receberem 1,8 g/dia de ômega 3 (combinação EPA + DHA) vs placebo. Não houve diferença entre os grupos em relação ao desfecho cardiovascular primário, mas houve um aumento, sem significância estatística, de FA no grupo intervenção (7,2% vs 4,0%; HR 1,84; 95% IC, 0,98-3,45; P = 0,06).
  4. E por último, um recente estudo publicado em 2021, VITAL Rhythm Study, randomizou 25.099 participantes a receberem 840 mg/dia (combinação EPA + DHA) vs placebo. Não houve diferença de FA entre os grupos (7,2 vs 6,6 por 1000 pessoas-ano; HR 1,09; 95% IC, 0,96-1,24; P = 0,19).

Quando se avalia os 4 estudos em conjunto, os dados sugerem, mas não provam, que pode haver um risco dose relacionada de FA ao consumo de ômega 3. Com doses elevadas (4,0 g/dia) houve aumento estatisticamente significante no risco de FA. Com doses intermediárias (1,8 g/dia) houve um aumento de FA, mas sem significância estatística. E com doses menores (840 mg/dia) não houve aumento do risco.

Desta forma, pacientes que fazem uso de altas doses de ômega 3 devem ser informados do possível risco de FA e acompanhados de perto para se detectar precocemente esta arritmia.

  1. ReportLinker. Omega-3 Market by Type, Application, Source and Region—Global Forecasts to 2025. Published December 2019. Accessed February 18, 2021. https://www.reportlinker.com/p03670113/Omega-3-PUFA-Market-by-Type-Application-Source-Sub-source-Region-Global-Forecasts-to.html?utm_source=PRN
  2. Albert CM, Cook NR, Pester J, et al. Effect of marine omega-3 fatty acid and vitamin D supplementation on incident atrial fibrillation: a randomized clinical trial.JAMA. Published March 16, 2021. doi:10.1001/jama.2021.1489
  3. Nicholls SJ, Lincoff AM, Garcia M, et al. Effect of high-dose omega-3 fatty acids vs corn oil on major adverse cardiovascular events in patients at high cardiovascular risk: the STRENGTH randomized clinical trial. JAMA. 2020;324(22):2268-2280. doi:10.1001/jama.2020.22258
  4. Bhatt DL, Steg PG, Miller M, et al; REDUCE-IT Investigators. Cardiovascular risk reduction with icosapent ethyl for hypertriglyceridemia. N Engl J Med. 2019;380(1):11-22. doi:10.1056/NEJMoa1812792
  5. Kalstad AA, Myhre PL, Laake K, et al; OMEMI Investigators. Effects of n-3 fatty acid supplementation in elderly patients after myocardial infarction: a randomized, controlled trial. Circulation. 2021;143(6):528-539. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.120.052209