Obesidade infantil: novas opções de tratamento?

Compartilhe

A obesidade infantil, definida como um índice de massa corporal (IMC) maior ou igual ao percentil 95 ajustado por idade e sexo, tem incidência crescente em diversas partes do mundo. A preocupação é reforçada diante de dados que apontam persistência da obesidade infantil na idade adulta, com risco aumentado de complicações como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e muitos tipos de câncer. Por exemplo, em um estudo prospectivo em Israel com 2,3 milhões de participantes que tiveram IMC medido aos 17 anos, aqueles com obesidade tiveram um risco aumentado de morte por doença cardíaca coronária (HR 4,9, IC 95% 3,9-6,1), acidente vascular cerebral (HR 2,6, IC 95% 1,7-4,1) e morte súbita (HR 2,1,  IC 95% 1,5–2,9) em comparação com aqueles com IMC entre os percentis 5 e 24.

Embora as causas da obesidade sejam um conjunto multifatorial de influências socioecológicas, ambientais e genéticas que afetam crianças e famílias, sabemos que a adesão às diretrizes dietéticas e a atividade física suficiente escapam à maioria dos pacientes pediátricos e suas famílias. Nos últimos 5 anos, foram publicados 6 guidelines sobre o tema. Todos concordam que o controle do peso começa incentivando uma nutrição mais saudável e reduzindo o tempo sedentário, mas faltam evidências para estratégias específicas. Em adolescentes, particularmente, as terapias adjuvantes podem ser valiosas, como restrições dietéticas mais intensivas, farmacoterapia e cirurgia bariátrica.

Já para menores de 12 anos, as opções seguem limitadas. Esse cenário parece estar começando a ganhar novas evidências. Um estudo publicado recentemente no renomado New England Journal of Medicine avaliou os efeitos da liraglutida em um grupo de crianças com idade entre 6 e 12 anos com obesidade. O estudo fase 3a acompanhou 82 participantes por 82 semanas (sendo 56 em uso de liraglutida titulada ate a dose máxima de 3mg ao dia), alcançando uma redução de 8,4% do peso corporal. Os efeitos adversos gastrointestinais foram os mais comuns, seguindo o padrão já conhecido do uso em adultos. Não foram observados efeitos negativos sobre crescimento ou puberdade durante o período de acompanhamento. Os pacientes serão seguidos em fase aberta por mais 3 anos para reforçar a segurança do tratamento.

O estudo possui limitações evidentes. A composição corporal não foi medida, portanto, a possibilidade de perda de massa muscular não pode ser excluída. O tempo de estudo não foi suficiente para avaliar os efeitos de longo prazo, mas o acompanhamento por mais 3 anos devera ajudar neste ponto. Novos estudos envolvendo a semaglutida injetável em crianças com obesidade e a semaglutida oral em crianças com diabetes tipo 2 também trarão informações sobre os efeitos dos agonistas de GLP1 nessa faixa etária.

A prevenção da obesidade requer uma abordagem de todo o sistema e iniciativas políticas conjuntas entre os departamentos governamentais. O desenvolvimento e a implementação de intervenções para prevenir a obesidade pediátrica em crianças devem centrar-se em intervenções que sejam viáveis, eficazes e susceptíveis de reduzir as lacunas nas desigualdades no domínio da saúde. Garantir acessibilidade e segurança são pontos fundamentais nessa discussão.