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Obesidade: abordando as comorbidades de forma conjunta
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
18/4/2022
A prevalência de obesidade cresce em todo o mundo. No Brasil, estima-se que uma em cada 5 pessoas tenha IMC ≥ 30Kg/m2, sendo classificado como portador de obesidade. O excesso de peso é fator causal de outras condições como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer, levando a uma redução de 3 a 8 anos na sobrevida livre de doença e a um risco 30% maior de morte precoce, principalmente por causas cardiovasculares. Tais dados são baseados em estudos que avaliaram associações de forma isolada, não abordando as comorbidades de forma conjunta.
Publicação recente no The Lancet Diabetes buscou trazer novas informações sobre o tema. Trata-se de uma grande coorte retrospectiva, englobando dados de 114657 finlandeses, acompanhados por 12 anos. Ainda foram estudados dados de quase 500.000 britânicos buscando replicar os achados em uma população diferente. Os indivíduos foram agrupados de acordo com o IMC, buscando as incidências de 78 problemas de saúde comuns, com ajuste para idade, sexo, educação e condição social. A análise incluiu apenas associações que produziram taxas de risco (HRs) > 50%.
Os achados mostraram que a obesidade foi associada a 21 doenças cardiometabólicas e dos tratos digestivo, respiratório, neurológico e musculoesquelético, além de doenças infecciosas. Em comparação com adultos com peso saudável, aqueles com obesidade tiveram um HR 2,83 para desenvolver pelo menos uma doença, 5,17 para duas, 8,18 para 3 e 12,39 para 4 ou mais comorbidades. Quando estudados apenas pacientes com menos de 50 anos, os portadores de obesidade tiveram um risco 22 vezes maior para a coexistência de 4 ou mais doenças. O perfil de comorbidades aos 55 anos em participantes com obesidade era observado apenas aos 75 anos naqueles com peso normal. O grau de obesidade, avaliado pelo IMC, teve relação direta com a frequência das comorbidades.
Considerando o acúmulo de doenças tão diversas, a abordagem de cada uma delas separadamente implica em elevados custos, múltiplas abordagens e grande dificuldade na obtenção de resultados satisfatórios. Uma abordagem dirigida à obesidade pode ser medida preventiva eficaz e factível. Criar condições de vida saudáveis, incentivando a prática regular de exercícios e o acesso a alimentação de melhor qualidade, devem ser encaradas como políticas de saúde pública. O acesso a serviços de saúde estruturados para prescrição e acompanhamento de farmacoterapia, ou mesmo cirurgia bariátrica, quando indicado, são medidas propostas. O sucesso nessa abordagem dirigida vai impactar na incidência dessas comorbidades, levando a uma maior sobrevida saudável e consequentemente menores gastos a todo o sistema de saúde.