O que você precisa saber sobre complicações da ablação de FA

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O que você precisa saber sobre complicações da ablação de FA

Não é novidade que a ablação da fibrilação atrial (FA) ganha cada vez mais espaço na prática médica, mas será que temos informações claras sobre resultados e complicações deste procedimento?

Foi publicado recentemente no Journal of the American College of Cardiology (JACC) os achados iniciais de um grande registro norte-americano de dados sobre a ablação da FA.

Trata-se da maior coorte observacional multicêntrica realizada sobre o tema. A finalidade foi avaliar a prevalência, características demográficas, gerenciamento de procedimentos e resultados de pacientes submetidos a esse procedimento.

A ablação percutânea por cateter já demonstrou, em alguns ensaios clínicos, ser superior ao tratamento medicamentoso e atualmente é recomendada em consensos e diretrizes, principalmente nos pacientes sintomáticos. No entanto, grande parte dos dados já publicados vem de ensaios clínicos prospectivos, normalmente realizados por equipes experientes e em regime hospitalar. Faltavam, portanto, dados que informassem padrões de prática e taxas de complicações no contexto do mundo real. Nesse cenário, temos essa importante publicação.

Foram incluídos 76.219 pacientes submetidos à ablação de FA entre janeiro de 2017 e dezembro de 2020 em 162 hospitais americanos. Importante ressaltar que nem todas as equipes tinham um alto volume de procedimentos (houve uma média de 29 por ano por eletrofisiologista).

A maioria dos pacientes era do sexo masculino (65,2%), idade média de 65 anos, portadores da forma paroxística (55,8%) e com um CHA2DS2-VASc médio de 2,7. As comorbidades mais comuns eram insuficiência cardíaca (20,2%), hipertensão arterial sistêmica (70,4%), diabetes mellitus (20,1%), doença arterial coronariana (22,6%) e apneia obstrutiva do sono (33%). O isolamento de veias pulmonares, objetivo primário na ablação da FA, foi atingido em 92,4% dos casos, mostrando uma alta taxa de sucesso imediato.

As complicações graves durante ou após o procedimento foram relativamente raras.

No geral, a prevalência de qualquer complicação e complicações maiores foi relativamente baixa, com taxas de 2,5% e 0,9%, respectivamente. A mortalidade intra hospitalar foi de apenas 0,05% e as internações com duração > 1 dia foram de 11,8%.

Vale ressaltar que esse registro avaliou apenas os eventos intra-hospitalares. Não houve uma análise sobre eventos a longo prazo, como recorrência de FA e complicações mais tardias, como fístula esofágica, estenose de veias pulmonares ou lesão de nervo frênico. Além disso, os resultados são de um registro norte-americano, e nem sempre se aplica totalmente à nossa realidade. Mas temos resultados encorajadores, que seguramente poderão embasar o clínico na tomada de decisão, já que a ablação mostrou-se ser, a princípio, um procedimento com altas taxas de sucesso e baixas taxas de complicações precoces. São ainda necessários mais dados (nacionais) para avaliar os resultados a longo prazo no contexto do mundo real.

Referência:Hsu JC, Darden D, Du C, et al. Initial Findings From the National Cardiovascular Data Registry of Atrial Fibrillation Ablation Procedures. J Am Coll Cardiol. 2023,81(9):867–878.