IAM com supra: devemos abrir apenas a artéria culpada?

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Cerca de 50% dos pacientes com síndromes coronarianas agudas (SCA) apresentam outras lesões graves além da artéria culpada. Até o final de 2016, o tratamento de lesões não culpadas em pacientes hemodinamicamente estáveis com SCA com supradesnível de ST era considerada inadequado com grau de recomendação III. No entanto, 2 estudos prospectivos e randomizados recentemente publicados (PRAMI e Cvlprit) mostraram dados opostos, favorecendo o tratamento de lesões residuais na mesma internação/mesmo cateterismo, abrindo novas perspectivas, e fazendo com que as diretrizes passassem a modificar a recomendação para IIb.Estudo realizado no Brasil, retrospectivo e unicêntrico, avaliou em 580 pacientes se o tratamento de todas as lesões com grau de obstrução > 70% era superior à presença de lesões significativas residuais. Foram excluídos pacientes que permaneceram em tratamento clínico, realizaram revascularização cirúrgica, realizaram abordagem estagiada, trataram a artéria não culpada, apresentavam lesão de TCE, choque Cardiogênico ou tiveram perda de seguimento. O desfecho primário foram eventos combinados (reinfarto/angina, morte, insuficiência cardíaca e reintervenção).Comparando o grupo com lesão residual versus sem lesão residual, não houve diferença na taxa de eventos a longo prazo (31,9% x 35,6%, p = 0,76) e também na mortalidade (6,1% x 8,5%, p = 0,51).Apesar de ser retrospectivo e unicêntrico, trata-se do único estudo no país a avaliar essa população. Cerca de 10-40% dos pacientes tinham DAC prévia, diferente da maioria dos estudos. Portanto, os doentes eram mais graves, com maior incidência de eventos durante o seguimento, porém crônicos, com circulação colateral evidente e menos instabilidade de doença. Havia diferenças entre os grupos relacionadas à FEVE, pico de troponina e medicamentos utilizados podem interferir e modificar os resultados. No entanto os desfechos foram condizentes com as recomendações atuais de diretrizes.Novos estudos estão sendo realizados para responder essa questão em definitivo e nos próximos 2 anos teremos novas respostas.Referência: Soeiro AM, et al. Arq Bras Cardiol. 2016; 107(6):550-556.