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O iPhone 12 pode alterar o funcionamento do CDI? Olhe o que mostrou esse estudo!
Escrito por
Nestor Oliveira Neto
Publicado em
2/2/2021
Recentemente a Apple fez um alerta de segurança em relação ao uso do iPhone 12 por pacientes com marcapasso ou desfibriladores, recomendando que os smartphones da linha iPhone 12 e os acessórios MagSafe devem ficar a uma distância maior de 15 cm dos dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI) para evitar riscos. Se o iPhone estiver conectado a um carregador sem fio, essa distância deve ser maior de 30 cm.
Esta recomendação foi motivada por um artigo publicado no Heart Rhythm (04 jan 2021). Em um experimento realizado em um paciente com cardiodesfibrilador (CDI) Medtronic, os autores observaram que uma vez que o iPhone 12 era colocado sobre a área esquerda do tórax ocorria a suspensão imediata das terapias anti-taquicardia. A suspensão das terapias persistiram enquanto o iPhone foi mantido próximo a loja do dispositivo, retornando ao normal o após afastamento do smartphone.
Resposta Magnética dos DCEI
Isso ocorre porque o iPhone 12 e o carregador citado tem componentes magnéticos (ímãs), além de emitir radiação eletromagnética. O carregador sem fio é mantido próximo ao iPhone para a transferencia da energia e ambos possuem um dispositivo circular com ímãs e bobina, que produz um campo magnético. Dessa forma, basicamente o iPhone 12 irá funcionar como um ímã, se colocado bem próximo ao gerador.
A aplicação do magneto sobre a loja do CDI desabilita somente a terapia para as taquiarritmias, não alterando a função de marcapasso do CDI. No caso do marcapasso, geralmente a aplicação do ímã sobre a loja do gerador causa a reversão do marcapasso para o modo assíncrono, ou seja, desabilita a sensibilidade e modifica a frequência de estimulação para a frequência magnética, que é geralmente maior do que a frequência básica programada. Essa frequência magnética varia entre os fabricantes e depende do estado da bateria do gerador. Por exemplo, a frequência magnética dos geradores de um fabricante (Biotronik) com a bateria em bom estado é de 90 pulsos por minuto (ppm) e se reduz para 80 ppm quando a bateria está desgastada, com indicativo de troca eletiva do gerador (ERI). Porém, dependendo do fabricante ou como está programado o gerador, a resposta ao ímã pode ser diferente e não ocorrer a reversão para o modo assíncrono (exemplo: resposta magnética programada no modo “synchronous”, ou ativar o registro de EGM). Aparelhos com bateria em fim de vida (EOL) também não apresentam resposta magnética.
O modo assíncrono pode propiciar a competição entre o ritmo próprio e o ritmo do marcapasso, uma vez que o marcapasso irá “ignorar" os batimentos expontâneos (se houver ritmo próprio) favorecendo o aparecimento ou o desencadeamento de arritmias. Porém, a reversão para modo assíncrono não causa em geral riscos significativos, sendo empregada, por exemplo, durante procedimentos cirúrgicos para evitar a inibição da estimulação durante o uso do bisturi elétrico. Neste caso, o marcapasso é programado em modo assíncrono (VOO ou DOO), ou opcionalmente, pela aplicação e manutenção do ímã sobre a loja do gerador.
Portanto, a preocupação principal é em relação aos CDIs, uma vez que o iPhone 12 pode inibir as terapias para as arritmias malignas, que causam morte súbita. O CDI utiliza pulsos de marcapasso ou choques de alta energia para reverter as arritmias ventriculares.
A aplicação do ímã não interfere na função de marcapasso do CDI, não ativa o modo assíncrono, tal como ocorre no caso com o marcapasso convencional (unicameral ou bicameral) ou marcapasso ressincronizador.
Interferência de Celulares e Smartphones sobre DCEI.
Celulares e smartphones emitem campos eletromagnéticos que podem interferir com DCEIs.
Os tipos de respostas dos dispositivos podem ser inibição da estimulação por oversensing e detecção inapropriada de taquiarritmias em CDI. Os DCEI modernos tem filtros de proteção para os sinais de alta frequência gerados pelos dispositivos móveis.
Um estudo recente encontrou risco muito baixo de interferência eletromagnética entre o iPhone 6 e DCEI, enquanto a ocorrência de interferência na telemetria foi comum (mas de pouca repercussão). O iPhone 6 não causou um efeito de ímã quando colocado diretamente sobre o gerador, ao contrário do que foi observado com o iPhone 12.
Enquanto possível de ocorrer, eventos de importância clínica com o uso normal de smartphone são muito raros. Por segurança, os pacientes são orientados a utilizar o telefone celular junto ao ouvido oposto ao lado do corpo onde o marca-passo foi implantado para aumentar a distância entre o marcapasso e o telefone e evitar colocar um telefone ligado próximo a loja do marcapasso. Por exemplo, não carregar o telefone no bolso da camisa diretamente sobre o gerador.
Portanto, o efeito de ímã não é em geral uma preocupação com o uso de celulares, como ocorre com os dispositivos que fazem carregamento da bateria por transferencia sem fio de energia, como o iPhone 12. Porém, todos os modelos emitem a radiação eletromagnética que é inerente à tecnologia usada, sendo a GSM a mais usada.
Conclusão
Celulares de modo geral emitem radiação eletromagnética que pode interferir com os DCEI.
De modo geral, a probabilidade do uso de celulares e smartphones atuais causar interferências sobre dispositivos implantáveis é baixa.
Alguns dispositivos mais modernos, como o iPhone 12, são dotados de componentes magnéticos que permitem o carregamento sem fio da bateria. Quando mantido bem próximo a loja do gerador de CDI, o iPhone 12 pode causar a suspensão das terapias anti-taquicardia e expor o paciente a riscos. Por isso, a recomendação de manter este smartphone a uma distância maior de 15 cm do gerador de pulso. Se o iPhone estiver conectado a um carregador sem fio, essa distância deve ser ampliada para mais de 30 cm.
Referências Greenberg JC, Altawil MR, Singh G. Life Saving Therapy Inhibition by Phones Containing Magnets, Heart Rhythm (2021).Lacour P, Parwani AS, Schuessler S, et al. Are Contemporary Smartwatches and Mobile Phones Safe for Patients With Cardiovascular Implantable Electronic Devices? J Am Coll Cardiol Clin Electrophysiol. 2020, 6 (9) 1158–1166.