Novo guideline de dislipidemia do AACE: quais as recomendações sobre tratamento da hipertrigliceridemia?

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Além de especificar o papel das novas drogas hipolipemiantes no tratamento da hipercolesterolemia (já falamos sobre isso em outro texto), o mais recente guideline do AACE sobre dislipidemia também estabelece recomendações sobre o tratamento da hipertrigliceridemia, focando na prevenção cardiovascular de duas drogas: ômega3 e niacina. Portanto, os autores não estabelecem recomendações direcionadas ao tratamento da hipertrigliceridemia para prevenção da pancreatite, que é classicamente o principal objetivo da terapia desta condição. Mas será que algum tratamento para hipertrigliceridemia tem benefício do ponto de vista cardiovascular? Como veremos a seguir, esse benefício, embora discreto, pode existir quando uma apresentação purificada do ômega 3 é feita em um grupo específico de pacientes.

 

Mas, enfim, quais as recomendações:

 

1.       Em pacientes com níveis de triglicerídeos entre 150 e 499 mg/dl e com doença cardiovascular aterosclerótica (DCV) ou de alto risco cardiovascular (CV),  os autores sugerem o uso de  ácido eicosapentaenoico (na sua forma purificada etil icosapent) em associação à estatina.

 

Essa recomendação se baseia em evidências que demonstraram o benefício dessa forma purificada de EPA no risco CV. Os autores do guideline realizaram uma metaanálise com estes estudos e chegaram à conclusão de que esta droga pode reduzir o risco de IAM em pacientes de alto risco CV. No entanto, não houve redução de AVC, mortalidade cardiovascular e geral ou revascularização miocárdica. Ao mesmo tempo, não houve maior descontinuação por efeitos adversos (fibrilação atrial e sangramento), embora os autores alertem que estes não devem ser desconsiderados e precisam ser discutidos com o paciente antes do início da medicação. A conclusão foi  de que o discreto benefício supera potenciais riscos, o que motivou a recomendação.

 

Vale ressaltar que esta recomendação não pode ser extrapolada para outras formas de EPA e que não temos, no Brasil, a forma purificada etil icosapent.

 

2.       Em pacientes com níveis de triglicerídeos entre 150 e 499 mg/dl e com DCV ou de alto CV, os autores são contrários ao uso de EPA mais ácido docosahexaenoico (DHA) associado à estatina.

 

Os estudos que avaliaram a associação de EPA e DHA não demonstraram benefício adicional e ainda tiveram uma taxa de efeitos adversos que tornou o risco-benefício desta associação desfavorável.

 

Em relação aos pacientes com níveis de triglicerídeos de 500 mg/dl ou mais, não há evidências suficientes para que alguma recomendação contra ou a favor de qualquer forma de ômega 3 seja realizada.

 

3.       Em pacientes com níveis de triglicerídeos entre 150 e 499 mg/dl e com DCV ou de alto CV, os autores são contrários ao uso de niacina associado à terapia padrão. Mesma coisa para níveis de 500 mg/dl ou mais.