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Nova classificação da obesidade: pontos de corte propostos

Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
7/2/2025

A nova classificação da obesidade, proposta por um grupo de especialistas na área, e publicada no The Lancet em janeiro de 2025, se baseia não apenas no IMC, mas também em outras medidas antropométricas, como a circunferência abdominal (CA), a relação cintura/quadril (RCQ) e a relação cintura/altura (RCA). Na verdade, a própria definição de obesidade, pela nova proposta, pode ser determinada por estas outras medidas, mesmo naqueles com IMC abaixo de 30 Kg/m2.
Desta forma, em pacientes com IMC de 25 Kg/m2 ou mais, o excesso de adiposidade e, portanto, a obesidade pode ser diagnosticada caso pelo menos uma das outras 3 medidas citadas esteja alterada. Se pelo menos duas destas medidas estiverem alteradas, independentemente do IMC, o diagnóstico também pode ser firmado. Ou seja, mesmo indivíduos com IMC abaixo de 25 Kg/m2 podem ter excesso de adiposidade. Mas quais pontos de corte devemos utilizar para CA, RCQ e RCA?
Para circunferência abdominal, os autores sugerem utilizar valores acima de 102 cm para homens e acima de 88 cm para mulheres. Esses são pontos de corte mais antigos e não condizentes com os mais atuais sugeridos pelo IDF para indivíduos da América Latina: acima de 90cm para homens e acima de 80 cm para mulheres. No entanto, o IDF equipara os latino-americanos aos orientais, considerando não haver estudos que validem os melhores pontos de corte para os primeiros. Para saber qual ponto de corte seria o mais preciso para o brasileiro, seria importante ter mais estudos sobre isso no nosso país.
Para a RCQ, calculada a partir da divisão da medida da cintura pela medida do quadril, ambos em centímetros, os autores da nova proposta propõem um valor acima de 0,90 para homens e acima de 0,85 para mulheres. Para RCA, valores acima de 0,50 indicariam um risco cardiometabólico maior, embora, segundo os autores, seja necessário mais estudos para validar esse ponto de corte.
Mas o documento propõe uma outra forma de definir excesso de adiposidade: o IMC elevado associado a uma medida direta de adiposidade também elevada. Para isso eles sugerem o uso de densitometria de corpo inteiro (DEXA) ou de outra ferramenta, como a bioimpedância (BIA). Mas o ponto de corte que devemos utilizar para definir excesso de tecido adiposo com esses métodos diagnósticos é ainda mais controverso.
Os autores sugerem que uma massa gorda acima de 25% em homens, submetidos a DEXA, seja indicativo de excesso de adiposidade. Em mulheres, há mais dúvidas e eles orientam utilizar um ponto de corte de 30 a 38%. Mas reforçam que esses valores não são totalmente confiáveis e podem variar de acordo com o método (talvez não seja o mesmo para DEXA e BIA, por exemplo) e em diferentes populações.
Independentemente de existirem controvérsias, os autores precisaram definir pontos de corte para cada uma das medidas propostas neste primeiro momento. Sem eles, não teria como a nova classificação, caso aceita, ser aplicável na prática clínica.