Monitoramento contínuo no diabetes tipo 1 e o impacto no controle glicêmico.

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O diabetes tipo 1 (DM1) é caracterizado pela destruição autoimune das células beta, com deficiência absoluta de insulina, sendo esta a ferramenta primordial no tratamento dessa condição. O alcance das metas terapêuticas nesses pacientes é um grande desafio, particularmente pela necessidade de múltiplas verificações diárias dos níveis glicêmicos, com impacto direto no ajuste das doses. Consequentemente, grande proporção das pessoas com DM1 apresentam níveis elevados de hemoglobina glicada, com aumento do risco de complicações. O monitoramento contínuo por sistema flash pode ser uma alternativa.

O desenvolvimento de sistemas de monitoramento contínuo de glicose possibilitou a verificação dos níveis de glicose sem a necessidade da “furada” de ponta do dedo. A precisão desses sistemas já está estabelecida, sendo indicado apenas a confirmação nos episódios de hipoglicemia. Entretanto o papel do monitoramento contínuo com escaneamento intermitente na melhora do controle glicêmico não está totalmente esclarecido. No estudo FLASH-UK, recém-publicado no NEJM, os autores compararam o monitoramento contínuo por sistema flash (Freestyle Libre 2) contra o teste de ponta de dedo, na capacidade de reduzir a glicemia em pessoas com DM1 e hemoglobina glicada alta, acompanhadas por 24 semanas.

O estudo recrutou um total de 156 participantes, randomizados em uma proporção de 1:1, para serem submetidos a monitoramento contínuo por sistema flash (grupo intervenção) ou para ponta de dedo (grupo cuidados habituais). Na linha de base, a idade média foi de 44 anos, com duração média do diabetes de 21 anos; 44% dos participantes eram mulheres. O monitoramento contínuo levou a maior redução na HbA1c (diferença absoluta média de -0,5 %). O tempo no alvo foi 9% maior (ou 130 minutos) e o tempo em hipoglicemia foi 3% menor (ou 43 minutos) no grupo intervenção. Dois participantes do grupo de cuidados habituais tiveram um episódio de hipoglicemia grave e 1 participante do grupo de intervenção teve uma reação cutânea ao sensor.

Os resultados apresentados são compatíveis com estudos anteriores com desenho semelhante como os estudos DIAMOND e GOLD. Um dos destaques do estudo é o uso da segunda geração de monitores flash, com alarmes para hipo e hiperglicemia. Estudos comparando os monitores de primeira geração (sem alarmes) com monitores CGMS com alarmes têm mostrado benefícios destes últimos. Outros pontos de destaque são o amplo espectro de desfechos (incluindo opiniões dos pacientes e dados do sensor) além da não participação da empresa fabricante no estudo. Uma clara limitação é o desenho aberto.

Concluindo, a monitorização contínua com escaneamento intermitentemente com sistema flash associado a alarmes em pacientes vivendo com DM1 fora das metas proporcionou melhor controle glicêmico, com melhora na HbA1c e no tempo no alvo, com menor número de episódios de hipoglicemia.