Meu paciente vai fazer um cateterismo cardíaco: quais as orientações?

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Meu paciente vai fazer um cateterismo cardíaco: quais as orientações?

Que orientações dar a seu paciente antes de um cateterismo cardíaco? Recentemente, foi publicado no Circulation, orientações da American Heart Association (AHA) sobre práticas baseadas em evidência no laboratório de hemodinâmica. Esse tópico é particularmente importante devido ao desenvolvimento exponencial da especialidade “Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista” desde a primeira coronariografia realizada por Mason Sones em meados de 1950 até a atualidade, que engloba cateterismos cardíacos diagnósticos, procedimentos terapêuticos de revascularização (as angioplastias coronárias) e estruturais (como a TAVI e o MitraClip). Além do grande desenvolvimento da área, é marcante a ocupação e ritmo de trabalho nos laboratórios de hemodinâmica do Brasil e do mundo, com realização de mais de 1 milhão de cateterismos cardíacos por ano nos EUA, por exemplo.

Apesar dos avanços, algumas condutas tradicionais precisam ser revisitadas dada a ausência de evidência que as suportem na atualidade. A publicação citada discorre sobre boas práticas no laboratório de hemodinâmica de acordo com a evidência acumulada nas últimas décadas para corroborar ou descontinuar essas condutas. Vamos ver que orientações seguir antes de um cateterismo cardíaco.

Merecem destaque alguns tópicos sobre orientações antes do cateterismo:

Metformina. A evidência disponível não suporta o “efeito deletério de manter a metformina” em pacientes com função renal normal ou insuficiência renal leve. Por sua vez, o impacto da metformina em pacientes com insuficiência renal moderada a grave é desconhecido, uma vez que este medicamento é contra-indicado em pacientes com TFG – Taxa de Filtração Glomerular < 30mL/min e deve ser evitado se TFG 30-45mL/min.

Alergia a Frutos do Mar. Pacientes com história de alergia a frutos do mar isolada não precisam receber medicações antialérgicas antes de se submeterem a cateterismo cardíaco. Em pacientes com história prévia de reação aguda moderada a grave a contraste iodado, pré-medicação antialérgica conforme protocolo institucional de profilaxia de alergia a contraste deve ser recomendado.

Anticoagulantes orais (ACO). Em pacientes com moderado a alto risco de eventos trombóticos (exemplo: prótese mecânica, fibrilação atrial com AVC prévio), a continuação do ACO é razoável especialmente quando utilizada a via de acesso transradial. A decisão de suspender ou não o ACO deve se basear no risco trombótico da suspensão do ACO, risco de complicações hemorrágicas da intervenção, urgência do procedimento e expertise da equipe de hemodinâmica com a via transradial. Em caso de insucesso da via radial primária, deve-se preferencialmente utilizar via ulnar ou radial contralateral. Se for optado por suspender o ACO, seguem recomendações de períodos de suspensão:

  • Varfarina: suspender 3 dias antes com INR alvo de 1.8 (via transfemoral) e 2.2 (via transradial).
  • Dabigatran, rivaroxaban, apixaban, edoxaban: suspender 24-48horas antes dependendo da taxa de filtração glomerular.

Referência Bibliográfica:

  1. Sripal Bangalore et al. Evidence-Based Practices in the Cardiac Catheterization Laboratory. A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation. 2021;144:e107–e119.